quinta-feira, 30 de julho de 2009

vejo do cais um cais

rasgar rasgar rasgar
deixares-te romper
não corromper
mas irromper

sem mastro
sem castro

principalmente

sem cadastro

sem redoma
nem retoma




e sempre esta tortura da clausura em que te enfias

como se estar nu fosse o mesmo que usar véu
como se o livre fosse o sozinho
ou o sozinho fosse bastardo

da alma dizer por vezes
frangalho
ou coalho

é tudo aliás e no fundo
uma questão de baralho
cartas que só diferem na contracapa


(aparentemente)

há o bluff
o cenário

um espírito em contraplacado
desde cedo habituado
ao jogo


o mais certo é ser apenas medo misturado com cansaço

e a memória de umas asas de zoroastro


até que
tudo pelo que
tudo para que

no dissolver da gramática

certas teias tecidas de longe

algures entre a morfina e o chocolate

se peguem ao teu corpo

tudo por esse finalmente
em que te enrouquece a voz mas já não se ensurdece a lente

quarta-feira, 29 de julho de 2009

...
go tell her that the sky can't shine with rain
...



...little Alice, come down from that tree, come and take a walk with me...
...through this glass I cannot see...





(sometimes I do repeat myself too much)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

E agora, descalça...

Ela nunca tinha percebido que existia uma enorme diferença entre o desistir e o acabar.
E por isso moía, remoía, feita menina mimada que nunca quer largar o cobertor, sempre à espera do frio, para chegar ao quente.
Hoje, ou ontem, ou antes de ontem, porque os dias por vezes esticam-se para além dos seus limites e duram muito mais do que as horas do costume... bem, Hoje, ela sabe o que é começar.

- Começar-Se -


É que isto para trás foi apenas um prefácio.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

a palavra é, sem dúvida, longe. longe para a frente, longe para trás, memória ou desejo, a coisa em si fica sempre longe. um bocadinho mais longe para cima, que isto é tudo imenso e indeterminado, um bocadinho mais longe para baixo, que isto já se viu tudo e esse todo enorme vai ser sempre só um nada ainda mais profundo, até pode ser assim um bocadinho mais longe na diagonal, para dar balanço, e assim um bocadinho mais longe na preguiça, ou um bocadinho mais longe mais depressa, mas um bocadinho mais longe. o longe é o que te fica mais perto.


e o aqui, esse é aquele que sempre na mira nunca te pertence ao agora.

sábado, 11 de julho de 2009

da ideia

calcar
calcar para não fugir
para não voar
não perder

calcar
recalcar
para enterrar
e assim preservar
cimentar
calcar para recriar

empurrar
fazer descer
plantar
esperar


e como cactos
de tempo a tempo
regar

e como pão
deixar levedar
bem coberta

para
com muita paciência
um dia poder simplesmente nascer

terça-feira, 7 de julho de 2009

Erinnerung von Zahlen

Sie sagte, ein anderes Königreich wartet. Der ist der Unterschied zwischen ein und zwei. Das andere, die drei, wird bereits genommen.
Frau K.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

auto-retrato III, versão narrativa

porque ela gosta mesmo é de flirtar com o padeiro, que tem bom timbre e nome francês. e de passar a grande avenida da nossa pequena república a 180 km/h. estranhamente, também gosta quando uma desconhecida, gira por sinal, lhe escreve love no pulso, que ela gosta mesmo muito de ver sempre magro. o que ela gosta é de ouvir só a guitarra, quando soa ao mar. e de dar trincas nos ombros dos amigos que são aquela família longíncua mas sempre perto, enquanto morde uma raivazinha escondida que não sabe muito bem de onde vem, mas que sabe que é tremendamente vermelha, e do lado oposto. o que ela gosta mesmo é de ter saudades da irmã , e de gostar mais de quando ela está por perto. de desafinar, porque algo lhe diz que isso não é o mais fácil. e de esticar a corda, mais do que saltar à corda. o que ela gosta mesmo é de enumerar o que não suporta.
ou então.
o que ela gosta mesmo, acima de tudo, é sentir que chegou a casa.
sempre que ela se põe a descascar o mundo