sexta-feira, 27 de novembro de 2009

a mim, é sempre o piano que dói


nos meus braços o correr do preto no branco
ritmo marcado a força de dedos lassos

chamemos-lhe um brilho baço

geometria do estilhaço
em sebenta colorida


e o tal cansaço
contraponto de uma síntese mais do que sabida

atordoado
desafinado

e ainda que por vezes descalço

(sempre o desejo do pé descalço)

gelado

enregelado





a voz
o escape



da poluição entranhada



(bílis desclausurada)

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

quão longe te poderá levar o naufrágio?

como estamos de força de braços?





há certezas que pertencem apenas ao fundo da espinha
e certas fés só sobrevivem bem calcadas no cimento

no frio

e no cinzento





peço-te apenas que ao estalar a tempestade não largues os saltos vermelhos

terça-feira, 17 de novembro de 2009

petição ao piano sem cauda

a determinada altura, dir-se-ia que chorava
a guitarra, pois

mas depois, e de repente

a epifania


são cordas, senhor, são cordas



serão sempre cordas, meu amor

as minhas
as tuas
e o contorno das deles

das cordas se farão correntes
amarras e sobreviventes


tenho a alma congelada

acordei-me a uma voz dormente

encurralei-me no contratempo
e na reverberação artificial do cantar no sítio errado



é o chão que a voz tem que segurar, menina, nunca o seu destino



e agora só mais umas redundâncias vaporosas a anteceder a imagem sonora
a verdadeira imagem sonora, a origem da tragédia proscrita


um corredor

um enorme corredor escuro para alojar o teu desconsolo



e algumas janelas para escorraçar o tédio

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

sofro de todos os males.


























(possuo todas as curas.)

sábado, 14 de novembro de 2009

infiltrações desejadas

espécie de matriz enciclopédica


da mãe enclausurada
tremente

escapemos por favor ao cadavérica
esta sede vai bem mais fundo que o inferno
e a rima só desaustina as braçadas para a outra margem

besunta-me lá de vão conhecimento


e partirei simplesmente

isso que a cabeça fala já o corpo pressente
esse esfaimado devorado
o dono da febre e do telúrio

sensual esfaqueador de asas


é conceito por demais vazio



e esse azul será apenas teu

metal meu será sempre mais vermelho
mais diluído

sempre aguerrido

e sempre desgarrado



e consumado o destino ainda lhe sobra o fôlego para cobrir o sol com o teu dó

mas o que soçobra é o acordar do mi
num acorde laranja vivo e denso
ouro fiel e manso pautado pelos dedos mais velhos do mundo


e nas tuas mãos
o sangue

o meu sangue ainda quente




afligem-me ainda e apenas essas andorinhas esventradas por um outono sonolento

essas notas alheias sopradas ao vento

e umas quantas rimas inusitadas

terça-feira, 10 de novembro de 2009

as porcelanas.
as salamandras.
as cortinas.

rezará porventura a história dos crocodilos?
ou dos devoradores de vidros?
dos dós sustenidos?
dos sis contraídos?


quem te fez acreditar que só um final era possível?
que o aí e o aqui não podiam existir a um tempo certo?



mesmo sabendo quem te criou

o que falta saber
o que te falta mesmo saber


a ré
do lá

(e um fá para mi a saber a limão)


será que é preciso ver
para deixar de crer?


e do ouvir?
e do haver?


e do largar?

cuidar.



cuidar.