quinta-feira, 22 de julho de 2010

gosto especialmente da palavra laivo. tem ares de uivo.

um laivo pode ser surdo

imagem poética e incandescente

lavas dilúvios eflúvios

e uma data de jorros quentes



já o uivo soa a outras coisas para mim mais marianas


do mário longe


de um mar antigo




uma maré ausente



e à conta dos laivos de mário e dos uivos do mar te digo:

escondi algumas notas bem ao fundo do armário

lá entaladas no canto
entre um cimento que deveria obviamente ser madeira
e os cobertores da herança
mais uns dois ou três ferros ornamentos
roubados ao elevador


resguardo essas notas bem longe da ganância da garganta


da sede do laivo
da fome do uivo



dos socos no estômago


e do soco nos estômagos





aqui não há já corações para remendar como se faz com as meias


e mesmo havendo rasgões nas teias

as aranhas não são mancas



as palavras

alavancas



e o amor aos solavancos

obriga-o a um metrónomo
se o quiseres ver espernear


ou então
simplesmente
faz por lhe dar o pão
e o vinho

mas ao primeiro acrescenta as nozes
ao segundo o pau da canela




e se, pelo caminho,
para chegar aqui, portanto
esbanjei umas quantas valsas
ri perdida com uns tantos sambas
e sobrevivi a uma data de boleros enfadonhos

se
pelo caminho
cheguei aqui

te digo


guardei as notas



guardei-nos ainda as notas para bordar o tango

quarta-feira, 14 de julho de 2010

faltará a fome à casa, ou faltará a casa à fome?

é tão duvidoso
é sempre duvidoso
escrever o poema nas paredes como cravar a carne no poema
fiquemos por isso num qualquer transtorno do meio
de meio
mais crucial do que social
e mais natural do que sentimental
blah blah blah octogonal

tem tentáculos, mas não é polvo

é uma espécie de infinito

que preferia de quando em vez estar só
de pernas para o ar
ou de cabeça no céu



e não ser somente arremessado ao vento para quem o conseguir apanhar

o peso não é domínio do vertical

do oito concreto
empinado
recto e governado

e o resto, o todo
o oito caído


desolado

querer é crer e da mesma maneira o contrário
como o oito de pé ou deitado

há sempre um instinto paradoxal a roer o sangue nas veias

mas não te assustes
pelo menos
não te assustes mais do que eu


o instinto tem farol e o paradoxo faroleiro


o caos sangra
o medo corta


o vento entorta


e endireita


resta saber onde está o freio




o raio do meio


o zero


sobre zero

ante zero



a cave do zero



resta rasgar a carne e partir o granito destas paredes


o caos sangra
o medo corta

e algures

não escondido,
mas resguardado

onde não se encontram bengalas
e se abrem as janelas


longe da pele

perto da fala


há um cais que sara