ah pois é já me esquecia
que isto às vezes tem piada
nunca sabes se és partida ou se és chegada
se essa porta é a da saída ou a da entrada
ou se és apenas corredor de passagem
melhor contudo porém apesar de tudo que sejas a passagem no corredor
mas se fores porta, que me leves pelo menos a um jardim perto do lago
é que o mar está muito caro
e se corredor te achares, que te tenhas claro
que em ti tenhas, claro
uma data de janelas
isto tudo a respeito e sem depósito de umas meras telas
de umas quantas pinceladas
nem o bordado tem direito a aniversário
chega-nos uma caneta de feltro para marcar as reticências
ponto a ponto a ponto
se sucedem os pontos que nos pesam como a cruz
e lá se escapou o ora pois então traiçoeiro das janelas
é em ti que vomito sempre esta minha prece sem velas
é que uma coisa é carregares em cima de ti um véu
e outra bem diferente é seres um reles par de cortinas
siga só mais um xarope só para ver se te animas
só mais um conhaque
um brinde à memória
essa náusea verde com o cheiro do absinto
à partida eu sinto
de partida
eu sinto
e quero
e sinto
e quero mesmo muito
sem ti me minto
sou janela pano carne febre esmola tributo
aqui jazo
espero
nasço
e me consinto
assim
abandono os esquemas os dilemas as ilusões dos contrastes
chicoteiam-me os fonemas para que me liberte dos sintagmas
eu que só queria ser morfema
que canta por ser a filha
e é enquanto mãe que dança
que dança
e dança
tropeça
tropeça
tropeça
tropeça
e dança.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
terça-feira, 19 de outubro de 2010
descarta-me por favor das tentativas
dos mapas mentais
eu não sou um território
sou um não-lugar
aqui não há nada para cartografar
a não ser que resolvas escrever-me uma carta
isso ainda é do mais romântico que há
é isso,
escreve-me cartas
elas não deixaram de ser idiotas
mas pode ser que as tornes menos prosaicas
não
não sou um território
mas posso ser a tua caixa de correio
dos mapas mentais
eu não sou um território
sou um não-lugar
aqui não há nada para cartografar
a não ser que resolvas escrever-me uma carta
isso ainda é do mais romântico que há
é isso,
escreve-me cartas
elas não deixaram de ser idiotas
mas pode ser que as tornes menos prosaicas
não
não sou um território
mas posso ser a tua caixa de correio
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
o meu tédio escreve poemas
mas só quando não está com azia
não interessa rimar com a poesia
só com o resto
com o entretanto
com o aliás
com o por menor
é que não és tu que escolhes a rima
ela te escolhe a ti para descarnar os pontos cegos
ela está sempre no antes e no depois do eu
independentemente de a encontrares nesse durante
o meu tédio escreve poemas
pelo caminho encontra rimas que não procuro
simplesmente
aprendi a ter o cuidado de não as afugentar
mas só quando não está com azia
não interessa rimar com a poesia
só com o resto
com o entretanto
com o aliás
com o por menor
é que não és tu que escolhes a rima
ela te escolhe a ti para descarnar os pontos cegos
ela está sempre no antes e no depois do eu
independentemente de a encontrares nesse durante
o meu tédio escreve poemas
pelo caminho encontra rimas que não procuro
simplesmente
aprendi a ter o cuidado de não as afugentar
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
eu sei
sempre soube
que o cais é uma miragem
uma feliz miragem
só a queda é que não o é
se cais
quando cais
abres ferida
roxeias a pele
e saras o golpe
o rasgão
fica-te a cicatriz
a carne é que guarda a memória
tudo o resto não é real
são meros tropos
encalços trôpegos
sinédoques bem bebidas
malabarismos do espírito
vulgares psicossomatismos
memórias das chagas do cristo, talvez
e talvez, por que não, biombos
é se calhar esta a ideia perfeita para se juntar ao tombo
eu sei
sempre soube
o cais é uma miragem
se fosse engenheira fazia pontes e estava o assunto sanado
mas não
idiota
escolhi ser marinheira
sempre soube
que o cais é uma miragem
uma feliz miragem
só a queda é que não o é
se cais
quando cais
abres ferida
roxeias a pele
e saras o golpe
o rasgão
fica-te a cicatriz
a carne é que guarda a memória
tudo o resto não é real
são meros tropos
encalços trôpegos
sinédoques bem bebidas
malabarismos do espírito
vulgares psicossomatismos
memórias das chagas do cristo, talvez
e talvez, por que não, biombos
é se calhar esta a ideia perfeita para se juntar ao tombo
eu sei
sempre soube
o cais é uma miragem
se fosse engenheira fazia pontes e estava o assunto sanado
mas não
idiota
escolhi ser marinheira
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
no tempo do terceiro andar da estrela andava-se mais triste mas sorria-se mais vezes
e um mar de antenas a cobrir os céus mas debaixo dos teus olhos
no tempo do terceiro andar da estrela podia fotografar-me de vários ângulos geográficos
ora os pés pousados nas grades da varanda do quarto
a rematar a cúpula lá para os lados de leonardoora um dedo a empurrar o cristo para dentro do maracanã
e ainda pelas américas
a óbvia santidade de francisco
lá por baixo uma visão de beco parisiensetudo isto enfiado no alto dos meus olhos do terceiro andar da estrela
a cidade vivia-me mas era no mundo que eu morava
há muito me vim embora
fiz as mudanças de eléctrico
ainda guardo comigo as fotografias mas nunca olho para elas
a cidade dorme-me
faltam-me as escadas de incêndio
ainda guardo comigo as fotografias mas nunca olho para elas
a cidade dorme-me
faltam-me as escadas de incêndio
terça-feira, 31 de agosto de 2010
o tempo tem tempos
os tempos
abrigos
entre o um e o dois tivemos a coragem da infelicidade
não juntos
mas ao mesmo tempo
de mergulhar
ver o dentro dessa tal felicidade
e de voar
de ver a infertilidade do binário
o dever
o depois do ver
que vai entre o meio e o caminho
certas verdades hão-de ser eternas náufragas
e sorte a do teu navio se com elas se afundar
pois não é que te disse sempre que chegava mais tarde
disse-te sempre que o meio era ao lado, meu amor
disse-mo sempre.
os tempos
abrigos
entre o um e o dois tivemos a coragem da infelicidade
não juntos
mas ao mesmo tempo
de mergulhar
ver o dentro dessa tal felicidade
e de voar
de ver a infertilidade do binário
o dever
o depois do ver
que vai entre o meio e o caminho
certas verdades hão-de ser eternas náufragas
e sorte a do teu navio se com elas se afundar
pois não é que te disse sempre que chegava mais tarde
disse-te sempre que o meio era ao lado, meu amor
disse-mo sempre.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
falha-me a vida à vida
já a morte nunca se lhe falha
tudo o resto são cartas e o ser que as baralha
a entidade
o senhor Desidério
a cargo dos encargos dos desejos e dos folhos
do que falta aos olhos
os dados meramente dobram
ou simplesmente afundam
as apostas colhem
escolhem
recolhem
e humanizam
tiram o erro das cartas e devolvem a falha ao homem
podem sempre faltar pintas negras numa das suas alvas faces
mas a mão foi sempre a tua
a partir de certa altura o casino vida é uma mera questão de fichas
dados infantes
coroas adultas
podes seguir a golpe de mojito ou de cicuta
a escolha é tua
entre a praia e a reduta redundância uma blasfémia democrática e muda a espanejar
a espoeirar
a varrer
a varrer arre pois a varrer
os fétidos vapores de uma ágora corrupta
de uma guerra
de uma puta
dessa grandessíssima filha de puta
e ai de nós falarmos mulheres de outras mulheres
ai o feminismo
ai o socialismo
ai o culturalismo
a política do égua lismo
nem machos nem sanguessugas
prefiro corujas trafulhas
olham
vêem
escutam
vivem hoje dentro desta minha espécie de reserva emocional bandos e bandos de corujas
umas quantas diásporas de andorinhas e umas matilhas de rouxinóis
a todos dirijo o vento
a ti as notas do sopro
mas só às corujas as sigo
serenas
sábias
complacentes
por elas passaram já todas as mágoas
ouviram já ranger todos os dentes
para o mundo
para este mundo
já não precisam de lentes
todos os filtros lhes couberam
entre os olhos e o coração já se fez o meio caminho
resta-nos louvar os mortos
agradecer os vivos
e tomar-lhes
aos lobos
esses olhos meus olhos atentos
emprestados pelas corujas
já a morte nunca se lhe falha
tudo o resto são cartas e o ser que as baralha
a entidade
o senhor Desidério
a cargo dos encargos dos desejos e dos folhos
do que falta aos olhos
os dados meramente dobram
ou simplesmente afundam
as apostas colhem
escolhem
recolhem
e humanizam
tiram o erro das cartas e devolvem a falha ao homem
podem sempre faltar pintas negras numa das suas alvas faces
mas a mão foi sempre a tua
a partir de certa altura o casino vida é uma mera questão de fichas
dados infantes
coroas adultas
podes seguir a golpe de mojito ou de cicuta
a escolha é tua
entre a praia e a reduta redundância uma blasfémia democrática e muda a espanejar
a espoeirar
a varrer
a varrer arre pois a varrer
os fétidos vapores de uma ágora corrupta
de uma guerra
de uma puta
dessa grandessíssima filha de puta
e ai de nós falarmos mulheres de outras mulheres
ai o feminismo
ai o socialismo
ai o culturalismo
a política do égua lismo
nem machos nem sanguessugas
prefiro corujas trafulhas
olham
vêem
escutam
(e se pensarmos que entre o pescoço e os olhos destas soturnas senhoras vão cinco centímetros no espaço dois e um meio para cima dois e um meio para baixo e que a meio caminho entre as duas suas mais limítrofes iluminadas paralelas vão cinco paridos de um meio e que nesse novo meio a visão roda sinistra e destra e se nunca nunca a dita tudo vê ao mesmo tempo mas tudo percorre percorre tudo e aquilo que não vê ainda ainda pressente e o que deixa de ver sempre lembra e o que vai ver já viu ainda que em intermitência como um farol em penitência como um moinho sem vento e da mesma maneira que a eira traz sempre o abismo à beira entro mergulho dentro do poema lanço-me da ribanceira e morro ao largo do um aéreo fonema porque o sistema só pode ser visto entre o meio abaixo de uns olhos que sentem e o meio acima de um coração que cliché a cliché a cliché raios partam a rima ainda vê)
vivem hoje dentro desta minha espécie de reserva emocional bandos e bandos de corujas
umas quantas diásporas de andorinhas e umas matilhas de rouxinóis
a todos dirijo o vento
a ti as notas do sopro
mas só às corujas as sigo
serenas
sábias
complacentes
por elas passaram já todas as mágoas
ouviram já ranger todos os dentes
para o mundo
para este mundo
já não precisam de lentes
todos os filtros lhes couberam
entre os olhos e o coração já se fez o meio caminho
resta-nos louvar os mortos
agradecer os vivos
e tomar-lhes
aos lobos
esses olhos meus olhos atentos
emprestados pelas corujas
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