quarta-feira, 5 de maio de 2010

tudo isto porque em mim

as línguas são sempre tremores:
umas adensam-se mais a norte do ventre
outras mais a sul
umas parecem congelar-me o peito
enquanto se enrijecem nas pontas dos meus dedos
(e a rima lá chega tão óbvia quanto precisa)
há línguas cheias de medos
há a língua fortaleza
e uma língua binarista
para não haver confusões lapidares
há uma língua conquista
e uma língua dos favores
e há sempre línguas recessas
avessas
(e, bem, lá está a rima)
línguas travessas

línguas janelas, línguas escadas


língua mãe casa


língua trela

língua asa


e língua nascida em cofre-forte

língua de corte

e língua que cose


língua barata e de consorte


língua palavra
maldita
reformada
encavalitada

língua sombra

encurralada


língua vaca
língua puta
língua estria

língua carne




língua veia


língua assombro
língua dura

língua leite e língua morte


há a língua que arrepia
e uma língua nova, míope

língua estrada ou horizonte


há uma língua deserta
e uma despovoada
uma é ainda virgem, a outra foi abandonada

haverá uma língua grávida

e uma língua tudo ou nada




e há pois todo o sangue que nos acompanha

os saltos
as névoas
as trovoadas


e partidas iguais às chegadas

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