quarta-feira, 23 de junho de 2010

pouca terra


mar à vista





não é vento o que me tolhe



se pouca a terra


o mar se avista



não há chão que nos arraste



esta vista quer conquista


carne sangue voz



o grito


é o berro que iça as velas


e mesmo que seja o silêncio a equilibrar o navio
é sempre vocal a questão do balanço
do dar lanço


(berra pois que nem um bezerro sem dar azo à bezerrice)


quão mais agudo ergues o canto
mais longe te leva o tempo


trata então de afinar as cordas
de lavar as velas
e se preciso de tecer uma nova tessitura

que venha o tormento de um cabo

as reverberações desfasadas

o enjoo das tempestades



para tudo há partitura





menos para o vento



mas venha o medo
a calmaria
uma afasia acamada com escorbuto na alma


pouca terra



o mar



a vista


desfocada

para quê ser patrão de barco quando o posso ser do mar

navegar o mar

bonito e hidráulico pensamento
prestes a afundar


mas antes disso
resta acreditar que virá uma onda soprada em contratempo
calar de vez as palavras para que a voz regresse ao cais

se ela não vier
será então tarde demais para se ouvir um "Ana, olha que cais!"
e nem rima nem tropeção te virá resgatar do tombo

mar à vista

mar avista


se perdes a vista do mar levas a vista ao chão
e se levas a vista ao chão levas a vida ao soalho
e se levas a vida ao soalho
obviamente




cais


se não perdes a vista do mar levas a vista ao fim
e se levas a vista ao fim levas a vida ao fundo
e se levas a vida ao fundo








talvez lá chegues

sábado, 19 de junho de 2010

fly on the wall/your neck to the ground - track 04/05

so, what would you say if I managed to stay in silence?







I've been here for quite a while, and I know you won't decline: this sword you point at me is made of glue, and I never knew the way to point back at you. I've been here for quite a while. and when I seem to get in line, I see your smoky shades of blue and always find a way to come back to you. smiling hands inviting in, to feel this strenght inside of me. all is simple when I fail to see. when our words are this confuse, I carve an S right on the muse, and clearly my mind will release. I've been mad for quite a while, but I can't veil it, nor discard. infatuations lasted too long to derive through these ageless thoughts and flares that you cannot hide. friendly ghosts will keep you in this aching strenght inside of me, but all is simple when I try to see. and when our words get this confuse, I'll carve an S right on the muse and clearly my mind will release.


then eights are doubled guesses, many riddles keep you in.



never knew my time to come



devils and prophets all play the same game.







promised to keep a trace. to save a place where you can hide. promised to grow inside the silent mourning made our night. promised to glide away, though never stray out of your lace. bodies changing place, hollowing the souls of these youngsters made of ice. they can feel the heat, only when they bleed. but then your silence turns so unkind... a silence so different from mine. it's been raining outside since forever and a life. but there's still this black orchid kept away from the light.



hands tied



to welcome me




promised
to wear this letter
the sacred pin of a deadly sin
promised to wear your letter
the sacred pin of my deadly sin

red
crimson pain melting my skin for long time used to ice


it seems like I can feel only when I bleed

it seems like I can see



hands tied to welcome me


hands tied

domingo, 13 de junho de 2010

ouço lá ao longe uma espingarda


bem diferente é ouvir uma automática

essa é por trauma e por norma bem mais surda que o rasgar de uma naifada


mas é lá ao longe




bem longe






que eu agora ouço essa espingarda




há ainda
e pelo menos
um ponto final
uma espécie de parágrafo


um outro conto proposto

qualquer coisa saturada

desnaturada


é que o novo é já velho e gasto e chato

querê-lo, parece-me, é só mais um perder do tempo
uma espécie de vomitar em seco
ou então um paravento para as velas deste barco


dá-me o golpe, o tiro, a machadada
sabes que isto não vai lá nem com drogas nem com garrote

nem com vírus
nem com cancro
nem com este poema saltimbanco

rebuscado, rebuscado
até que noves fora nada


é de cor que nos lembramos



lengalenga retorcida




todo o caos pode caber



mas só se for para rasgar

só se
desta vez
for mesmo para seguir até ao fim do berro

terça-feira, 1 de junho de 2010

é que a vitória não se calça



parece mais digno o desperdício
ainda que um saco roto

ou sempre que em saco roto


tem buraco, mas envolve

(que é do gás e do enxofre?)

não é pois o vazio o que te comove?



metal da espada e da corrente

se queres a rima, leva a rima
seja dela quem te aguente


dança minha é mais pungente
haverá lá manha homónima
ou enredo homofonista

é que nem mesmo uma paronímia
me arranca deste desleixo
é à pele que ele se agarra
e não ao profundo do peito
é no desejo que mora
e é no mar que ele se vê

traz lá
traz-me lá a voz ao meu desejo

em troca te prometo suspiros como jóias
cantares como lamentos
e
se ficares para isso
e
se eu ficar para isso também
prometo mostrar-te como um mundo faz dois mundos
e dois mundos melhores mundos