terça-feira, 31 de agosto de 2010

o tempo tem tempos



os tempos

abrigos



entre o um e o dois tivemos a coragem da infelicidade

não juntos
mas ao mesmo tempo

de mergulhar
ver o dentro dessa tal felicidade

e de voar





de ver a infertilidade do binário



o dever

o depois do ver



que vai entre o meio e o caminho


certas verdades hão-de ser eternas náufragas

e sorte a do teu navio se com elas se afundar




pois não é que te disse sempre que chegava mais tarde



disse-te sempre que o meio era ao lado, meu amor
disse-mo sempre.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

falha-me a vida à vida


já a morte nunca se lhe falha



tudo o resto são cartas e o ser que as baralha

a entidade


o senhor Desidério

a cargo dos encargos dos desejos e dos folhos

do que falta aos olhos



os dados meramente dobram
ou simplesmente afundam



as apostas colhem

escolhem

recolhem

e humanizam


tiram o erro das cartas e devolvem a falha ao homem




podem sempre faltar pintas negras numa das suas alvas faces

mas a mão foi sempre a tua





a partir de certa altura o casino vida é uma mera questão de fichas



dados infantes
coroas adultas

podes seguir a golpe de mojito ou de cicuta

a escolha é tua


entre a praia e a reduta redundância uma blasfémia democrática e muda a espanejar

a espoeirar

a varrer

a varrer arre pois a varrer


os fétidos vapores de uma ágora corrupta


de uma guerra
de uma puta

dessa grandessíssima filha de puta


e ai de nós falarmos mulheres de outras mulheres


ai o feminismo

ai o socialismo


ai o culturalismo


a política do égua lismo



nem machos nem sanguessugas


prefiro corujas trafulhas


olham
vêem
escutam

(e se pensarmos que entre o pescoço e os olhos destas soturnas senhoras vão cinco centímetros no espaço dois e um meio para cima dois e um meio para baixo e que a meio caminho entre as duas suas mais limítrofes iluminadas paralelas vão cinco paridos de um meio e que nesse novo meio a visão roda sinistra e destra e se nunca nunca a dita tudo vê ao mesmo tempo mas tudo percorre percorre tudo e aquilo que não vê ainda ainda pressente e o que deixa de ver sempre lembra e o que vai ver já viu ainda que em intermitência como um farol em penitência como um moinho sem vento e da mesma maneira que a eira traz sempre o abismo à beira entro mergulho dentro do poema lanço-me da ribanceira e morro ao largo do um aéreo fonema porque o sistema só pode ser visto entre o meio abaixo de uns olhos que sentem e o meio acima de um coração que cliché a cliché a cliché raios partam a rima ainda vê)

vivem hoje dentro desta minha espécie de reserva emocional bandos e bandos de corujas
umas quantas diásporas de andorinhas e umas matilhas de rouxinóis
a todos dirijo o vento

a ti as notas do sopro


mas só às corujas as sigo


serenas

sábias

complacentes



por elas passaram já todas as mágoas

ouviram já ranger todos os dentes


para o mundo

para este mundo


já não precisam de lentes



todos os filtros lhes couberam



entre os olhos e o coração já se fez o meio caminho



resta-nos louvar os mortos

agradecer os vivos



e tomar-lhes


aos lobos



esses olhos meus olhos atentos

emprestados pelas corujas

domingo, 8 de agosto de 2010

Failure is always a guarantee.


The error has been (and Beckett, the Exhausted, knew it far too well) focusing on the attempts, the merry go round of rides and rides trying to get to an inexistent place where just for once we will not fail, just like a donkey chases the carrot it will never taste. The very difference lies on the fact that we ourselves hold the cane in front of our eyes so we can keep going, for a few more rides, on and on from the beginning to the end of our godamn lives. Hey cutie, wanna try a little with me for a while?


We've all been trying too much for far too long, now.
(It can't be... natural? At least since after a few rounds...)

Back to the failure:
Lets not focus on the path we took to get there: lets look directly at the error itself.

Everything else is always foreseeable. Everything, but the error. The unpredictable. The knight in shining armor silently hidden all along the way.


There, only there, we may still find some shreds of Beauty.


Is there anything else we should be seeking?




Well, I'm just sayin'
We should trade one carrot for another.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

onde me escondeste os versos, fado velho?
onde pousaste as minhas rimas?


essas cores com que te insinuas
quase me fazem crer que a luz sufoca


não não não


há que ser mais virtuoso

(e mais uma vez tento impedir a rima de me trazer o esposo,
e como nunca o consigo disso vou fazendo gozo)



mas diz-me lá afinal onde me estancaste a fala?
e onde me esfolaste estes dedos que já não conseguem iludir as cordas?


apagou-se a luz


talvez se tenha apagado a luz



a luz está apagada






ainda respiro


sim ainda




a luz apagada
é cá dentro ou lá fora?


não vejo nada

será costume sonhar com o nada?



mas este breu afinal

é cá dentro?


principalmente te pergunto

é cá de dentro?

ou de lá de fora?





respiro
contudo


ainda


sem resposta


ainda





respiro ainda
mas pela minha carne


e não pelos teus olhos