ah pois é já me esquecia
que isto às vezes tem piada
nunca sabes se és partida ou se és chegada
se essa porta é a da saída ou a da entrada
ou se és apenas corredor de passagem
melhor contudo porém apesar de tudo que sejas a passagem no corredor
mas se fores porta, que me leves pelo menos a um jardim perto do lago
é que o mar está muito caro
e se corredor te achares, que te tenhas claro
que em ti tenhas, claro
uma data de janelas
isto tudo a respeito e sem depósito de umas meras telas
de umas quantas pinceladas
nem o bordado tem direito a aniversário
chega-nos uma caneta de feltro para marcar as reticências
ponto a ponto a ponto
se sucedem os pontos que nos pesam como a cruz
e lá se escapou o ora pois então traiçoeiro das janelas
é em ti que vomito sempre esta minha prece sem velas
é que uma coisa é carregares em cima de ti um véu
e outra bem diferente é seres um reles par de cortinas
siga só mais um xarope só para ver se te animas
só mais um conhaque
um brinde à memória
essa náusea verde com o cheiro do absinto
à partida eu sinto
de partida
eu sinto
e quero
e sinto
e quero mesmo muito
sem ti me minto
sou janela pano carne febre esmola tributo
aqui jazo
espero
nasço
e me consinto
assim
abandono os esquemas os dilemas as ilusões dos contrastes
chicoteiam-me os fonemas para que me liberte dos sintagmas
eu que só queria ser morfema
que canta por ser a filha
e é enquanto mãe que dança
que dança
e dança
tropeça
tropeça
tropeça
tropeça
e dança.
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