chega de navios
o mar já não me mete medo
tenho é saudades de esfolar os joelhos
o mapa mundo não é metáfora do eu ser
o eu ser é que é metáfora do mapa mundo
e a não ser que desejes viver entre os peixes
(bem mais fácil criar guelras do que asas)
mais vale deixares-te por terra e teres uma janela para o mar
chegam-te os olhos para te lembrar no mar
que o caminho está todo nos pés com que andas
e que o mar está todo dentro da cabeça
toda esta fé num cais serviu um fim
o seu fim
era pre-cisa
foi necessária
acima de tudo
o importante
foi sempre
poupar os tornozelos
e rezar por uma terra onde coubesse a tua dança
o medo do afogamento é bem mais lírico do que o seu correspondente terreno
se fosse para morrer na praia, que fosse na água e não enterrada na areia
e eu sempre me safei bem a nadar
a aposta lírica era uma aposta sólida
mas chega, pois
de navios
de velas e cabos e tormentas
chega de mar
é sempre o mesmo céu sobre as nossas cabeças
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
le mot
le quai
le repos
palavra pousada
le quai
le repos
palavra pousada
pousada palavra
na palavra
a ana cai
na palavra
a ana cai
na palavra
a ana resta
a ana resta
a ana manca
falta a ana à palavra ou a palavra à ana
nem sequer falemos de faltar a carne à sala
o que resta do nosso fígado apanha o sol de março na varanda, mesmo sendo janeiro, mesmo quando é outubro
enrolo-me no horizonte
e continuo,
e continuo,
se não falta cais falta navio
e se as velas sobram o vento não leva
é mera brisa o sopro que te atropela
mas não te apoquentes
não muito pelo menos
não muito pelo menos
há que rezar pelo tornado que sendo pressa e desalento
te obriga a parar o tempo e a chafurdar no espaço
certas geometrias não carecem de compasso
farei sempre a apologia do estilhaço
mas ai dos meus nervos quando alguém deixa cair o copo
ou a palavra
só o texto pode ser desgovernado
cair ao chão
partir-se
ser arremessado contra a cabeça bonita de uma donzela
espetado no baço de um futuro moribundo
ou atirado como ovos podres no carnaval
a palavra é sempre anárquica,
nunca cai, nunca se desgoverna
tem nela o cais, a queda e o navio
tu, tu é que cais na palavra
cais em ti dentro da palavra
e em vez de te deixares vir calmamente à superfície desse mar abismo
desatas a esbracejar o texto onde te irás afogar
certas geometrias não carecem de compasso
farei sempre a apologia do estilhaço
mas ai dos meus nervos quando alguém deixa cair o copo
ou a palavra
só o texto pode ser desgovernado
cair ao chão
partir-se
ser arremessado contra a cabeça bonita de uma donzela
espetado no baço de um futuro moribundo
ou atirado como ovos podres no carnaval
a palavra é sempre anárquica,
nunca cai, nunca se desgoverna
tem nela o cais, a queda e o navio
tu, tu é que cais na palavra
cais em ti dentro da palavra
e em vez de te deixares vir calmamente à superfície desse mar abismo
desatas a esbracejar o texto onde te irás afogar
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
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