segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

le mot

le quai


le repos


palavra pousada
pousada palavra

na palavra
a ana cai
na palavra

a ana resta

a ana manca

falta a ana à palavra ou a palavra à ana

nem sequer falemos de faltar a carne à sala


o que resta do nosso fígado apanha o sol de março na varanda, mesmo sendo janeiro, mesmo quando é outubro

enrolo-me no horizonte
e continuo,


se não falta cais falta navio

e se as velas sobram o vento não leva



é mera brisa o sopro que te atropela


mas não te apoquentes
não muito pelo menos

há que rezar pelo tornado que sendo pressa e desalento
te obriga a parar o tempo e a chafurdar no espaço


certas geometrias não carecem de compasso

farei sempre a apologia do estilhaço
mas ai dos meus nervos quando alguém deixa cair o copo
ou a palavra

só o texto pode ser desgovernado
cair ao chão
partir-se
ser arremessado contra a cabeça bonita de uma donzela
espetado no baço de um futuro moribundo
ou atirado como ovos podres no carnaval


a palavra é sempre anárquica,
nunca cai, nunca se desgoverna

tem nela o cais, a queda e o navio


tu, tu é que cais na palavra

cais em ti dentro da palavra


e em vez de te deixares vir calmamente à superfície desse mar abismo
desatas a esbracejar o texto onde te irás afogar

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