segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

chega de navios


o mar já não me mete medo


tenho é saudades de esfolar os joelhos


o mapa mundo não é metáfora do eu ser
o eu ser é que é metáfora do mapa mundo

e a não ser que desejes viver entre os peixes
(bem mais fácil criar guelras do que asas)
mais vale deixares-te por terra e teres uma janela para o mar

chegam-te os olhos para te lembrar no mar
que o caminho está todo nos pés com que andas
e que o mar está todo dentro da cabeça


toda esta fé num cais serviu um fim
o seu fim
era pre-cisa
foi necessária
acima de tudo
o importante
foi sempre

poupar os tornozelos

e rezar por uma terra onde coubesse a tua dança



o medo do afogamento é bem mais lírico do que o seu correspondente terreno

se fosse para morrer na praia, que fosse na água e não enterrada na areia


e eu sempre me safei bem a nadar
a aposta lírica era uma aposta sólida


mas chega, pois
de navios
de velas e cabos e tormentas

chega de mar




é sempre o mesmo céu sobre as nossas cabeças

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