gosto especialmente da palavra laivo. tem ares de uivo.
um laivo pode ser surdo
imagem poética e incandescente
lavas dilúvios eflúvios
e uma data de jorros quentes
já o uivo soa a outras coisas para mim mais marianas
do mário longe
de um mar antigo
uma maré ausente
e à conta dos laivos de mário e dos uivos do mar te digo:
escondi algumas notas bem ao fundo do armário
lá entaladas no canto
entre um cimento que deveria obviamente ser madeira
e os cobertores da herança
mais uns dois ou três ferros ornamentos
roubados ao elevador
resguardo essas notas bem longe da ganância da garganta
da sede do laivo
da fome do uivo
dos socos no estômago
e do soco nos estômagos
aqui não há já corações para remendar como se faz com as meias
e mesmo havendo rasgões nas teias
as aranhas não são mancas
as palavras
alavancas
e o amor aos solavancos
obriga-o a um metrónomo
se o quiseres ver espernear
ou então
simplesmente
faz por lhe dar o pão
e o vinho
mas ao primeiro acrescenta as nozes
ao segundo o pau da canela
e se, pelo caminho,
para chegar aqui, portanto
esbanjei umas quantas valsas
ri perdida com uns tantos sambas
e sobrevivi a uma data de boleros enfadonhos
se
pelo caminho
cheguei aqui
te digo
guardei as notas
guardei-nos ainda as notas para bordar o tango
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