chega de navios
o mar já não me mete medo
tenho é saudades de esfolar os joelhos
o mapa mundo não é metáfora do eu ser
o eu ser é que é metáfora do mapa mundo
e a não ser que desejes viver entre os peixes
(bem mais fácil criar guelras do que asas)
mais vale deixares-te por terra e teres uma janela para o mar
chegam-te os olhos para te lembrar no mar
que o caminho está todo nos pés com que andas
e que o mar está todo dentro da cabeça
toda esta fé num cais serviu um fim
o seu fim
era pre-cisa
foi necessária
acima de tudo
o importante
foi sempre
poupar os tornozelos
e rezar por uma terra onde coubesse a tua dança
o medo do afogamento é bem mais lírico do que o seu correspondente terreno
se fosse para morrer na praia, que fosse na água e não enterrada na areia
e eu sempre me safei bem a nadar
a aposta lírica era uma aposta sólida
mas chega, pois
de navios
de velas e cabos e tormentas
chega de mar
é sempre o mesmo céu sobre as nossas cabeças
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
le mot
le quai
le repos
palavra pousada
le quai
le repos
palavra pousada
pousada palavra
na palavra
a ana cai
na palavra
a ana cai
na palavra
a ana resta
a ana resta
a ana manca
falta a ana à palavra ou a palavra à ana
nem sequer falemos de faltar a carne à sala
o que resta do nosso fígado apanha o sol de março na varanda, mesmo sendo janeiro, mesmo quando é outubro
enrolo-me no horizonte
e continuo,
e continuo,
se não falta cais falta navio
e se as velas sobram o vento não leva
é mera brisa o sopro que te atropela
mas não te apoquentes
não muito pelo menos
não muito pelo menos
há que rezar pelo tornado que sendo pressa e desalento
te obriga a parar o tempo e a chafurdar no espaço
certas geometrias não carecem de compasso
farei sempre a apologia do estilhaço
mas ai dos meus nervos quando alguém deixa cair o copo
ou a palavra
só o texto pode ser desgovernado
cair ao chão
partir-se
ser arremessado contra a cabeça bonita de uma donzela
espetado no baço de um futuro moribundo
ou atirado como ovos podres no carnaval
a palavra é sempre anárquica,
nunca cai, nunca se desgoverna
tem nela o cais, a queda e o navio
tu, tu é que cais na palavra
cais em ti dentro da palavra
e em vez de te deixares vir calmamente à superfície desse mar abismo
desatas a esbracejar o texto onde te irás afogar
certas geometrias não carecem de compasso
farei sempre a apologia do estilhaço
mas ai dos meus nervos quando alguém deixa cair o copo
ou a palavra
só o texto pode ser desgovernado
cair ao chão
partir-se
ser arremessado contra a cabeça bonita de uma donzela
espetado no baço de um futuro moribundo
ou atirado como ovos podres no carnaval
a palavra é sempre anárquica,
nunca cai, nunca se desgoverna
tem nela o cais, a queda e o navio
tu, tu é que cais na palavra
cais em ti dentro da palavra
e em vez de te deixares vir calmamente à superfície desse mar abismo
desatas a esbracejar o texto onde te irás afogar
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
aqui não se querem companheiros
lutamos apenas pelos cúmplices
reciproca-se a idade como se de um sentimento se tratasse
como se fosse ela que pelo instinto falasse
ora um gracejo
ora uma falácia
nunca tentes que um bocejo rime com a tua audácia
meras eras
quimeras, quiseras
é por turvo encosto que se te abaula a face
mas nunca é pelo punho que o amor nos nasce
quem deras
esperas, kunderas
o meu espaço há-de rimar sempre com esferas
com as feras, pois, e com o cansaço
há um laço entre o estar e o estar como o aço
a prata o ouro o estilhaço
queira eu
quem dera
quem me deras
a quem deras
a quem eras
por quem te esmeras
e com quem faço
isso das esperas e dos fracassos e do mais do que estar aço ser ferro
respira agora a minha vida dentro da tua demora
será sempre edipiana a cumplicidade que contar a história
e a mediana vai ser sempre transitória
por isso pois então porque não por que não
diz-me onde moras
dir-te-ei quem fui
onde estás? onde és? onde me és?
onde te dói?
por quem te esperas?
diz-me quem queres ser
e eu trago-te a morar comigo
sei ser paráfrase e sei ser abrigo
já deixei para trás o crime e o castigo
a janela e o postigo
sê-me varanda
que eu te seja varanda
sejamos varanda
sem muro, sem gradeamento
e pintemos a nossa vista
prometo todas as noites rezar para que não nos estatelemos em chão i-mundo
lutamos apenas pelos cúmplices
reciproca-se a idade como se de um sentimento se tratasse
como se fosse ela que pelo instinto falasse
ora um gracejo
ora uma falácia
nunca tentes que um bocejo rime com a tua audácia
meras eras
quimeras, quiseras
é por turvo encosto que se te abaula a face
mas nunca é pelo punho que o amor nos nasce
quem deras
esperas, kunderas
o meu espaço há-de rimar sempre com esferas
com as feras, pois, e com o cansaço
há um laço entre o estar e o estar como o aço
a prata o ouro o estilhaço
queira eu
quem dera
quem me deras
a quem deras
a quem eras
por quem te esmeras
e com quem faço
isso das esperas e dos fracassos e do mais do que estar aço ser ferro
respira agora a minha vida dentro da tua demora
será sempre edipiana a cumplicidade que contar a história
e a mediana vai ser sempre transitória
por isso pois então porque não por que não
diz-me onde moras
dir-te-ei quem fui
onde estás? onde és? onde me és?
onde te dói?
por quem te esperas?
diz-me quem queres ser
e eu trago-te a morar comigo
sei ser paráfrase e sei ser abrigo
já deixei para trás o crime e o castigo
a janela e o postigo
sê-me varanda
que eu te seja varanda
sejamos varanda
sem muro, sem gradeamento
e pintemos a nossa vista
prometo todas as noites rezar para que não nos estatelemos em chão i-mundo
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
ah pois é já me esquecia
que isto às vezes tem piada
nunca sabes se és partida ou se és chegada
se essa porta é a da saída ou a da entrada
ou se és apenas corredor de passagem
melhor contudo porém apesar de tudo que sejas a passagem no corredor
mas se fores porta, que me leves pelo menos a um jardim perto do lago
é que o mar está muito caro
e se corredor te achares, que te tenhas claro
que em ti tenhas, claro
uma data de janelas
isto tudo a respeito e sem depósito de umas meras telas
de umas quantas pinceladas
nem o bordado tem direito a aniversário
chega-nos uma caneta de feltro para marcar as reticências
ponto a ponto a ponto
se sucedem os pontos que nos pesam como a cruz
e lá se escapou o ora pois então traiçoeiro das janelas
é em ti que vomito sempre esta minha prece sem velas
é que uma coisa é carregares em cima de ti um véu
e outra bem diferente é seres um reles par de cortinas
siga só mais um xarope só para ver se te animas
só mais um conhaque
um brinde à memória
essa náusea verde com o cheiro do absinto
à partida eu sinto
de partida
eu sinto
e quero
e sinto
e quero mesmo muito
sem ti me minto
sou janela pano carne febre esmola tributo
aqui jazo
espero
nasço
e me consinto
assim
abandono os esquemas os dilemas as ilusões dos contrastes
chicoteiam-me os fonemas para que me liberte dos sintagmas
eu que só queria ser morfema
que canta por ser a filha
e é enquanto mãe que dança
que dança
e dança
tropeça
tropeça
tropeça
tropeça
e dança.
que isto às vezes tem piada
nunca sabes se és partida ou se és chegada
se essa porta é a da saída ou a da entrada
ou se és apenas corredor de passagem
melhor contudo porém apesar de tudo que sejas a passagem no corredor
mas se fores porta, que me leves pelo menos a um jardim perto do lago
é que o mar está muito caro
e se corredor te achares, que te tenhas claro
que em ti tenhas, claro
uma data de janelas
isto tudo a respeito e sem depósito de umas meras telas
de umas quantas pinceladas
nem o bordado tem direito a aniversário
chega-nos uma caneta de feltro para marcar as reticências
ponto a ponto a ponto
se sucedem os pontos que nos pesam como a cruz
e lá se escapou o ora pois então traiçoeiro das janelas
é em ti que vomito sempre esta minha prece sem velas
é que uma coisa é carregares em cima de ti um véu
e outra bem diferente é seres um reles par de cortinas
siga só mais um xarope só para ver se te animas
só mais um conhaque
um brinde à memória
essa náusea verde com o cheiro do absinto
à partida eu sinto
de partida
eu sinto
e quero
e sinto
e quero mesmo muito
sem ti me minto
sou janela pano carne febre esmola tributo
aqui jazo
espero
nasço
e me consinto
assim
abandono os esquemas os dilemas as ilusões dos contrastes
chicoteiam-me os fonemas para que me liberte dos sintagmas
eu que só queria ser morfema
que canta por ser a filha
e é enquanto mãe que dança
que dança
e dança
tropeça
tropeça
tropeça
tropeça
e dança.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
descarta-me por favor das tentativas
dos mapas mentais
eu não sou um território
sou um não-lugar
aqui não há nada para cartografar
a não ser que resolvas escrever-me uma carta
isso ainda é do mais romântico que há
é isso,
escreve-me cartas
elas não deixaram de ser idiotas
mas pode ser que as tornes menos prosaicas
não
não sou um território
mas posso ser a tua caixa de correio
dos mapas mentais
eu não sou um território
sou um não-lugar
aqui não há nada para cartografar
a não ser que resolvas escrever-me uma carta
isso ainda é do mais romântico que há
é isso,
escreve-me cartas
elas não deixaram de ser idiotas
mas pode ser que as tornes menos prosaicas
não
não sou um território
mas posso ser a tua caixa de correio
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
o meu tédio escreve poemas
mas só quando não está com azia
não interessa rimar com a poesia
só com o resto
com o entretanto
com o aliás
com o por menor
é que não és tu que escolhes a rima
ela te escolhe a ti para descarnar os pontos cegos
ela está sempre no antes e no depois do eu
independentemente de a encontrares nesse durante
o meu tédio escreve poemas
pelo caminho encontra rimas que não procuro
simplesmente
aprendi a ter o cuidado de não as afugentar
mas só quando não está com azia
não interessa rimar com a poesia
só com o resto
com o entretanto
com o aliás
com o por menor
é que não és tu que escolhes a rima
ela te escolhe a ti para descarnar os pontos cegos
ela está sempre no antes e no depois do eu
independentemente de a encontrares nesse durante
o meu tédio escreve poemas
pelo caminho encontra rimas que não procuro
simplesmente
aprendi a ter o cuidado de não as afugentar
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
eu sei
sempre soube
que o cais é uma miragem
uma feliz miragem
só a queda é que não o é
se cais
quando cais
abres ferida
roxeias a pele
e saras o golpe
o rasgão
fica-te a cicatriz
a carne é que guarda a memória
tudo o resto não é real
são meros tropos
encalços trôpegos
sinédoques bem bebidas
malabarismos do espírito
vulgares psicossomatismos
memórias das chagas do cristo, talvez
e talvez, por que não, biombos
é se calhar esta a ideia perfeita para se juntar ao tombo
eu sei
sempre soube
o cais é uma miragem
se fosse engenheira fazia pontes e estava o assunto sanado
mas não
idiota
escolhi ser marinheira
sempre soube
que o cais é uma miragem
uma feliz miragem
só a queda é que não o é
se cais
quando cais
abres ferida
roxeias a pele
e saras o golpe
o rasgão
fica-te a cicatriz
a carne é que guarda a memória
tudo o resto não é real
são meros tropos
encalços trôpegos
sinédoques bem bebidas
malabarismos do espírito
vulgares psicossomatismos
memórias das chagas do cristo, talvez
e talvez, por que não, biombos
é se calhar esta a ideia perfeita para se juntar ao tombo
eu sei
sempre soube
o cais é uma miragem
se fosse engenheira fazia pontes e estava o assunto sanado
mas não
idiota
escolhi ser marinheira
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
no tempo do terceiro andar da estrela andava-se mais triste mas sorria-se mais vezes
e um mar de antenas a cobrir os céus mas debaixo dos teus olhos
no tempo do terceiro andar da estrela podia fotografar-me de vários ângulos geográficos
ora os pés pousados nas grades da varanda do quarto
a rematar a cúpula lá para os lados de leonardoora um dedo a empurrar o cristo para dentro do maracanã
e ainda pelas américas
a óbvia santidade de francisco
lá por baixo uma visão de beco parisiensetudo isto enfiado no alto dos meus olhos do terceiro andar da estrela
a cidade vivia-me mas era no mundo que eu morava
há muito me vim embora
fiz as mudanças de eléctrico
ainda guardo comigo as fotografias mas nunca olho para elas
a cidade dorme-me
faltam-me as escadas de incêndio
ainda guardo comigo as fotografias mas nunca olho para elas
a cidade dorme-me
faltam-me as escadas de incêndio
terça-feira, 31 de agosto de 2010
o tempo tem tempos
os tempos
abrigos
entre o um e o dois tivemos a coragem da infelicidade
não juntos
mas ao mesmo tempo
de mergulhar
ver o dentro dessa tal felicidade
e de voar
de ver a infertilidade do binário
o dever
o depois do ver
que vai entre o meio e o caminho
certas verdades hão-de ser eternas náufragas
e sorte a do teu navio se com elas se afundar
pois não é que te disse sempre que chegava mais tarde
disse-te sempre que o meio era ao lado, meu amor
disse-mo sempre.
os tempos
abrigos
entre o um e o dois tivemos a coragem da infelicidade
não juntos
mas ao mesmo tempo
de mergulhar
ver o dentro dessa tal felicidade
e de voar
de ver a infertilidade do binário
o dever
o depois do ver
que vai entre o meio e o caminho
certas verdades hão-de ser eternas náufragas
e sorte a do teu navio se com elas se afundar
pois não é que te disse sempre que chegava mais tarde
disse-te sempre que o meio era ao lado, meu amor
disse-mo sempre.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
falha-me a vida à vida
já a morte nunca se lhe falha
tudo o resto são cartas e o ser que as baralha
a entidade
o senhor Desidério
a cargo dos encargos dos desejos e dos folhos
do que falta aos olhos
os dados meramente dobram
ou simplesmente afundam
as apostas colhem
escolhem
recolhem
e humanizam
tiram o erro das cartas e devolvem a falha ao homem
podem sempre faltar pintas negras numa das suas alvas faces
mas a mão foi sempre a tua
a partir de certa altura o casino vida é uma mera questão de fichas
dados infantes
coroas adultas
podes seguir a golpe de mojito ou de cicuta
a escolha é tua
entre a praia e a reduta redundância uma blasfémia democrática e muda a espanejar
a espoeirar
a varrer
a varrer arre pois a varrer
os fétidos vapores de uma ágora corrupta
de uma guerra
de uma puta
dessa grandessíssima filha de puta
e ai de nós falarmos mulheres de outras mulheres
ai o feminismo
ai o socialismo
ai o culturalismo
a política do égua lismo
nem machos nem sanguessugas
prefiro corujas trafulhas
olham
vêem
escutam
vivem hoje dentro desta minha espécie de reserva emocional bandos e bandos de corujas
umas quantas diásporas de andorinhas e umas matilhas de rouxinóis
a todos dirijo o vento
a ti as notas do sopro
mas só às corujas as sigo
serenas
sábias
complacentes
por elas passaram já todas as mágoas
ouviram já ranger todos os dentes
para o mundo
para este mundo
já não precisam de lentes
todos os filtros lhes couberam
entre os olhos e o coração já se fez o meio caminho
resta-nos louvar os mortos
agradecer os vivos
e tomar-lhes
aos lobos
esses olhos meus olhos atentos
emprestados pelas corujas
já a morte nunca se lhe falha
tudo o resto são cartas e o ser que as baralha
a entidade
o senhor Desidério
a cargo dos encargos dos desejos e dos folhos
do que falta aos olhos
os dados meramente dobram
ou simplesmente afundam
as apostas colhem
escolhem
recolhem
e humanizam
tiram o erro das cartas e devolvem a falha ao homem
podem sempre faltar pintas negras numa das suas alvas faces
mas a mão foi sempre a tua
a partir de certa altura o casino vida é uma mera questão de fichas
dados infantes
coroas adultas
podes seguir a golpe de mojito ou de cicuta
a escolha é tua
entre a praia e a reduta redundância uma blasfémia democrática e muda a espanejar
a espoeirar
a varrer
a varrer arre pois a varrer
os fétidos vapores de uma ágora corrupta
de uma guerra
de uma puta
dessa grandessíssima filha de puta
e ai de nós falarmos mulheres de outras mulheres
ai o feminismo
ai o socialismo
ai o culturalismo
a política do égua lismo
nem machos nem sanguessugas
prefiro corujas trafulhas
olham
vêem
escutam
(e se pensarmos que entre o pescoço e os olhos destas soturnas senhoras vão cinco centímetros no espaço dois e um meio para cima dois e um meio para baixo e que a meio caminho entre as duas suas mais limítrofes iluminadas paralelas vão cinco paridos de um meio e que nesse novo meio a visão roda sinistra e destra e se nunca nunca a dita tudo vê ao mesmo tempo mas tudo percorre percorre tudo e aquilo que não vê ainda ainda pressente e o que deixa de ver sempre lembra e o que vai ver já viu ainda que em intermitência como um farol em penitência como um moinho sem vento e da mesma maneira que a eira traz sempre o abismo à beira entro mergulho dentro do poema lanço-me da ribanceira e morro ao largo do um aéreo fonema porque o sistema só pode ser visto entre o meio abaixo de uns olhos que sentem e o meio acima de um coração que cliché a cliché a cliché raios partam a rima ainda vê)
vivem hoje dentro desta minha espécie de reserva emocional bandos e bandos de corujas
umas quantas diásporas de andorinhas e umas matilhas de rouxinóis
a todos dirijo o vento
a ti as notas do sopro
mas só às corujas as sigo
serenas
sábias
complacentes
por elas passaram já todas as mágoas
ouviram já ranger todos os dentes
para o mundo
para este mundo
já não precisam de lentes
todos os filtros lhes couberam
entre os olhos e o coração já se fez o meio caminho
resta-nos louvar os mortos
agradecer os vivos
e tomar-lhes
aos lobos
esses olhos meus olhos atentos
emprestados pelas corujas
domingo, 8 de agosto de 2010
Failure is always a guarantee.
The error has been (and Beckett, the Exhausted, knew it far too well) focusing on the attempts, the merry go round of rides and rides trying to get to an inexistent place where just for once we will not fail, just like a donkey chases the carrot it will never taste. The very difference lies on the fact that we ourselves hold the cane in front of our eyes so we can keep going, for a few more rides, on and on from the beginning to the end of our godamn lives. Hey cutie, wanna try a little with me for a while?
We've all been trying too much for far too long, now.
(It can't be... natural? At least since after a few rounds...)
Back to the failure:
Lets not focus on the path we took to get there: lets look directly at the error itself.
Everything else is always foreseeable. Everything, but the error. The unpredictable. The knight in shining armor silently hidden all along the way.
There, only there, we may still find some shreds of Beauty.
Is there anything else we should be seeking?
Well, I'm just sayin'
We should trade one carrot for another.
The error has been (and Beckett, the Exhausted, knew it far too well) focusing on the attempts, the merry go round of rides and rides trying to get to an inexistent place where just for once we will not fail, just like a donkey chases the carrot it will never taste. The very difference lies on the fact that we ourselves hold the cane in front of our eyes so we can keep going, for a few more rides, on and on from the beginning to the end of our godamn lives. Hey cutie, wanna try a little with me for a while?
We've all been trying too much for far too long, now.
(It can't be... natural? At least since after a few rounds...)
Back to the failure:
Lets not focus on the path we took to get there: lets look directly at the error itself.
Everything else is always foreseeable. Everything, but the error. The unpredictable. The knight in shining armor silently hidden all along the way.
There, only there, we may still find some shreds of Beauty.
Is there anything else we should be seeking?
Well, I'm just sayin'
We should trade one carrot for another.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
onde me escondeste os versos, fado velho?
onde pousaste as minhas rimas?
essas cores com que te insinuas
quase me fazem crer que a luz sufoca
não não não
há que ser mais virtuoso
(e mais uma vez tento impedir a rima de me trazer o esposo,
e como nunca o consigo disso vou fazendo gozo)
mas diz-me lá afinal onde me estancaste a fala?
e onde me esfolaste estes dedos que já não conseguem iludir as cordas?
apagou-se a luz
talvez se tenha apagado a luz
a luz está apagada
ainda respiro
sim ainda
a luz apagada
é cá dentro ou lá fora?
não vejo nada
será costume sonhar com o nada?
mas este breu afinal
é cá dentro?
principalmente te pergunto
é cá de dentro?
ou de lá de fora?
respiro
contudo
ainda
sem resposta
ainda
respiro ainda
mas pela minha carne
e não pelos teus olhos
onde pousaste as minhas rimas?
essas cores com que te insinuas
quase me fazem crer que a luz sufoca
não não não
há que ser mais virtuoso
(e mais uma vez tento impedir a rima de me trazer o esposo,
e como nunca o consigo disso vou fazendo gozo)
mas diz-me lá afinal onde me estancaste a fala?
e onde me esfolaste estes dedos que já não conseguem iludir as cordas?
apagou-se a luz
talvez se tenha apagado a luz
a luz está apagada
ainda respiro
sim ainda
a luz apagada
é cá dentro ou lá fora?
não vejo nada
será costume sonhar com o nada?
mas este breu afinal
é cá dentro?
principalmente te pergunto
é cá de dentro?
ou de lá de fora?
respiro
contudo
ainda
sem resposta
ainda
respiro ainda
mas pela minha carne
e não pelos teus olhos
quinta-feira, 22 de julho de 2010
gosto especialmente da palavra laivo. tem ares de uivo.
um laivo pode ser surdo
imagem poética e incandescente
lavas dilúvios eflúvios
e uma data de jorros quentes
já o uivo soa a outras coisas para mim mais marianas
do mário longe
de um mar antigo
uma maré ausente
e à conta dos laivos de mário e dos uivos do mar te digo:
escondi algumas notas bem ao fundo do armário
lá entaladas no canto
entre um cimento que deveria obviamente ser madeira
e os cobertores da herança
mais uns dois ou três ferros ornamentos
roubados ao elevador
resguardo essas notas bem longe da ganância da garganta
da sede do laivo
da fome do uivo
dos socos no estômago
e do soco nos estômagos
aqui não há já corações para remendar como se faz com as meias
e mesmo havendo rasgões nas teias
as aranhas não são mancas
as palavras
alavancas
e o amor aos solavancos
obriga-o a um metrónomo
se o quiseres ver espernear
ou então
simplesmente
faz por lhe dar o pão
e o vinho
mas ao primeiro acrescenta as nozes
ao segundo o pau da canela
e se, pelo caminho,
para chegar aqui, portanto
esbanjei umas quantas valsas
ri perdida com uns tantos sambas
e sobrevivi a uma data de boleros enfadonhos
se
pelo caminho
cheguei aqui
te digo
guardei as notas
guardei-nos ainda as notas para bordar o tango
um laivo pode ser surdo
imagem poética e incandescente
lavas dilúvios eflúvios
e uma data de jorros quentes
já o uivo soa a outras coisas para mim mais marianas
do mário longe
de um mar antigo
uma maré ausente
e à conta dos laivos de mário e dos uivos do mar te digo:
escondi algumas notas bem ao fundo do armário
lá entaladas no canto
entre um cimento que deveria obviamente ser madeira
e os cobertores da herança
mais uns dois ou três ferros ornamentos
roubados ao elevador
resguardo essas notas bem longe da ganância da garganta
da sede do laivo
da fome do uivo
dos socos no estômago
e do soco nos estômagos
aqui não há já corações para remendar como se faz com as meias
e mesmo havendo rasgões nas teias
as aranhas não são mancas
as palavras
alavancas
e o amor aos solavancos
obriga-o a um metrónomo
se o quiseres ver espernear
ou então
simplesmente
faz por lhe dar o pão
e o vinho
mas ao primeiro acrescenta as nozes
ao segundo o pau da canela
e se, pelo caminho,
para chegar aqui, portanto
esbanjei umas quantas valsas
ri perdida com uns tantos sambas
e sobrevivi a uma data de boleros enfadonhos
se
pelo caminho
cheguei aqui
te digo
guardei as notas
guardei-nos ainda as notas para bordar o tango
quarta-feira, 14 de julho de 2010
faltará a fome à casa, ou faltará a casa à fome?
é tão duvidoso
é sempre duvidoso
escrever o poema nas paredes como cravar a carne no poema
fiquemos por isso num qualquer transtorno do meio
de meio
mais crucial do que social
e mais natural do que sentimental
blah blah blah octogonal
tem tentáculos, mas não é polvo
é uma espécie de infinito
que preferia de quando em vez estar só
de pernas para o ar
ou de cabeça no céu
e não ser somente arremessado ao vento para quem o conseguir apanhar
o peso não é domínio do vertical
do oito concreto
empinado
recto e governado
e o resto, o todo
o oito caído
desolado
querer é crer e da mesma maneira o contrário
como o oito de pé ou deitado
há sempre um instinto paradoxal a roer o sangue nas veias
mas não te assustes
pelo menos
não te assustes mais do que eu
o instinto tem farol e o paradoxo faroleiro
o caos sangra
o medo corta
o vento entorta
e endireita
resta saber onde está o freio
o raio do meio
o zero
sobre zero
ante zero
a cave do zero
resta rasgar a carne e partir o granito destas paredes
o caos sangra
o medo corta
e algures
não escondido,
mas resguardado
onde não se encontram bengalas
e se abrem as janelas
aí
longe da pele
perto da fala
há um cais que sara
é tão duvidoso
é sempre duvidoso
escrever o poema nas paredes como cravar a carne no poema
fiquemos por isso num qualquer transtorno do meio
de meio
mais crucial do que social
e mais natural do que sentimental
blah blah blah octogonal
tem tentáculos, mas não é polvo
é uma espécie de infinito
que preferia de quando em vez estar só
de pernas para o ar
ou de cabeça no céu
e não ser somente arremessado ao vento para quem o conseguir apanhar
o peso não é domínio do vertical
do oito concreto
empinado
recto e governado
e o resto, o todo
o oito caído
desolado
querer é crer e da mesma maneira o contrário
como o oito de pé ou deitado
há sempre um instinto paradoxal a roer o sangue nas veias
mas não te assustes
pelo menos
não te assustes mais do que eu
o instinto tem farol e o paradoxo faroleiro
o caos sangra
o medo corta
o vento entorta
e endireita
resta saber onde está o freio
o raio do meio
o zero
sobre zero
ante zero
a cave do zero
resta rasgar a carne e partir o granito destas paredes
o caos sangra
o medo corta
e algures
não escondido,
mas resguardado
onde não se encontram bengalas
e se abrem as janelas
aí
longe da pele
perto da fala
há um cais que sara
quarta-feira, 23 de junho de 2010
pouca terra
mar à vista
não é vento o que me tolhe
se pouca a terra
o mar se avista
não há chão que nos arraste
esta vista quer conquista
carne sangue voz
o grito
é o berro que iça as velas
e mesmo que seja o silêncio a equilibrar o navio
é sempre vocal a questão do balanço
do dar lanço
(berra pois que nem um bezerro sem dar azo à bezerrice)
quão mais agudo ergues o canto
mais longe te leva o tempo
trata então de afinar as cordas
de lavar as velas
e se preciso de tecer uma nova tessitura
que venha o tormento de um cabo
as reverberações desfasadas
o enjoo das tempestades
para tudo há partitura
menos para o vento
mas venha o medo
a calmaria
uma afasia acamada com escorbuto na alma
pouca terra
o mar
a vista
desfocada
para quê ser patrão de barco quando o posso ser do mar
navegar o mar
bonito e hidráulico pensamento
prestes a afundar
mas antes disso
resta acreditar que virá uma onda soprada em contratempo
calar de vez as palavras para que a voz regresse ao cais
se ela não vier
será então tarde demais para se ouvir um "Ana, olha que cais!"
e nem rima nem tropeção te virá resgatar do tombo
mar à vista
mar avista
se perdes a vista do mar levas a vista ao chão
e se levas a vista ao chão levas a vida ao soalho
e se levas a vida ao soalho
obviamente
cais
se não perdes a vista do mar levas a vista ao fim
e se levas a vista ao fim levas a vida ao fundo
e se levas a vida ao fundo
talvez lá chegues
mar à vista
não é vento o que me tolhe
se pouca a terra
o mar se avista
não há chão que nos arraste
esta vista quer conquista
carne sangue voz
o grito
é o berro que iça as velas
e mesmo que seja o silêncio a equilibrar o navio
é sempre vocal a questão do balanço
do dar lanço
(berra pois que nem um bezerro sem dar azo à bezerrice)
quão mais agudo ergues o canto
mais longe te leva o tempo
trata então de afinar as cordas
de lavar as velas
e se preciso de tecer uma nova tessitura
que venha o tormento de um cabo
as reverberações desfasadas
o enjoo das tempestades
para tudo há partitura
menos para o vento
mas venha o medo
a calmaria
uma afasia acamada com escorbuto na alma
pouca terra
o mar
a vista
desfocada
para quê ser patrão de barco quando o posso ser do mar
navegar o mar
bonito e hidráulico pensamento
prestes a afundar
mas antes disso
resta acreditar que virá uma onda soprada em contratempo
calar de vez as palavras para que a voz regresse ao cais
se ela não vier
será então tarde demais para se ouvir um "Ana, olha que cais!"
e nem rima nem tropeção te virá resgatar do tombo
mar à vista
mar avista
se perdes a vista do mar levas a vista ao chão
e se levas a vista ao chão levas a vida ao soalho
e se levas a vida ao soalho
obviamente
cais
se não perdes a vista do mar levas a vista ao fim
e se levas a vista ao fim levas a vida ao fundo
e se levas a vida ao fundo
talvez lá chegues
sábado, 19 de junho de 2010
fly on the wall/your neck to the ground - track 04/05
so, what would you say if I managed to stay in silence?
I've been here for quite a while, and I know you won't decline: this sword you point at me is made of glue, and I never knew the way to point back at you. I've been here for quite a while. and when I seem to get in line, I see your smoky shades of blue and always find a way to come back to you. smiling hands inviting in, to feel this strenght inside of me. all is simple when I fail to see. when our words are this confuse, I carve an S right on the muse, and clearly my mind will release. I've been mad for quite a while, but I can't veil it, nor discard. infatuations lasted too long to derive through these ageless thoughts and flares that you cannot hide. friendly ghosts will keep you in this aching strenght inside of me, but all is simple when I try to see. and when our words get this confuse, I'll carve an S right on the muse and clearly my mind will release.
then eights are doubled guesses, many riddles keep you in.
never knew my time to come
devils and prophets all play the same game.
promised to keep a trace. to save a place where you can hide. promised to grow inside the silent mourning made our night. promised to glide away, though never stray out of your lace. bodies changing place, hollowing the souls of these youngsters made of ice. they can feel the heat, only when they bleed. but then your silence turns so unkind... a silence so different from mine. it's been raining outside since forever and a life. but there's still this black orchid kept away from the light.
hands tied
to welcome me
promised
to wear this letter
the sacred pin of a deadly sin
promised to wear your letter
the sacred pin of my deadly sin
red
crimson pain melting my skin for long time used to ice
it seems like I can feel only when I bleed
it seems like I can see
hands tied to welcome me
hands tied
then eights are doubled guesses, many riddles keep you in.
never knew my time to come
devils and prophets all play the same game.
promised to keep a trace. to save a place where you can hide. promised to grow inside the silent mourning made our night. promised to glide away, though never stray out of your lace. bodies changing place, hollowing the souls of these youngsters made of ice. they can feel the heat, only when they bleed. but then your silence turns so unkind... a silence so different from mine. it's been raining outside since forever and a life. but there's still this black orchid kept away from the light.
hands tied
to welcome me
promised
to wear this letter
the sacred pin of a deadly sin
promised to wear your letter
the sacred pin of my deadly sin
red
crimson pain melting my skin for long time used to ice
it seems like I can feel only when I bleed
it seems like I can see
hands tied to welcome me
hands tied
domingo, 13 de junho de 2010
ouço lá ao longe uma espingarda
bem diferente é ouvir uma automática
essa é por trauma e por norma bem mais surda que o rasgar de uma naifada
mas é lá ao longe
bem longe
que eu agora ouço essa espingarda
há ainda
e pelo menos
um ponto final
uma espécie de parágrafo
um outro conto proposto
qualquer coisa saturada
desnaturada
é que o novo é já velho e gasto e chato
querê-lo, parece-me, é só mais um perder do tempo
uma espécie de vomitar em seco
ou então um paravento para as velas deste barco
dá-me o golpe, o tiro, a machadada
sabes que isto não vai lá nem com drogas nem com garrote
nem com vírus
nem com cancro
nem com este poema saltimbanco
rebuscado, rebuscado
até que noves fora nada
é de cor que nos lembramos
lengalenga retorcida
todo o caos pode caber
mas só se for para rasgar
só se
desta vez
for mesmo para seguir até ao fim do berro
bem diferente é ouvir uma automática
essa é por trauma e por norma bem mais surda que o rasgar de uma naifada
mas é lá ao longe
bem longe
que eu agora ouço essa espingarda
há ainda
e pelo menos
um ponto final
uma espécie de parágrafo
um outro conto proposto
qualquer coisa saturada
desnaturada
é que o novo é já velho e gasto e chato
querê-lo, parece-me, é só mais um perder do tempo
uma espécie de vomitar em seco
ou então um paravento para as velas deste barco
dá-me o golpe, o tiro, a machadada
sabes que isto não vai lá nem com drogas nem com garrote
nem com vírus
nem com cancro
nem com este poema saltimbanco
rebuscado, rebuscado
até que noves fora nada
é de cor que nos lembramos
lengalenga retorcida
todo o caos pode caber
mas só se for para rasgar
só se
desta vez
for mesmo para seguir até ao fim do berro
terça-feira, 1 de junho de 2010
é que a vitória não se calça
parece mais digno o desperdício
ainda que um saco roto
ou sempre que em saco roto
tem buraco, mas envolve
(que é do gás e do enxofre?)
não é pois o vazio o que te comove?
metal da espada e da corrente
se queres a rima, leva a rima
seja dela quem te aguente
dança minha é mais pungente
haverá lá manha homónima
ou enredo homofonista
é que nem mesmo uma paronímia
me arranca deste desleixo
é à pele que ele se agarra
e não ao profundo do peito
é no desejo que mora
e é no mar que ele se vê
traz lá
traz-me lá a voz ao meu desejo
em troca te prometo suspiros como jóias
cantares como lamentos
e
se ficares para isso
e
se eu ficar para isso também
prometo mostrar-te como um mundo faz dois mundos
e dois mundos melhores mundos
parece mais digno o desperdício
ainda que um saco roto
ou sempre que em saco roto
tem buraco, mas envolve
(que é do gás e do enxofre?)
não é pois o vazio o que te comove?
metal da espada e da corrente
se queres a rima, leva a rima
seja dela quem te aguente
dança minha é mais pungente
haverá lá manha homónima
ou enredo homofonista
é que nem mesmo uma paronímia
me arranca deste desleixo
é à pele que ele se agarra
e não ao profundo do peito
é no desejo que mora
e é no mar que ele se vê
traz lá
traz-me lá a voz ao meu desejo
em troca te prometo suspiros como jóias
cantares como lamentos
e
se ficares para isso
e
se eu ficar para isso também
prometo mostrar-te como um mundo faz dois mundos
e dois mundos melhores mundos
domingo, 30 de maio de 2010
como Hécuba
podes ter tu visto a morte de uns quantos
e a miséria de uns quantos
e a gaguez de uns tantos
como Teresa
rezado pelo sangue de uns poucos
velado pela alma de uns outros
e distribuído garrafas de água numa barraquinha da maratona
Como Hermione
chorado, suplicado
ironizado
E como Calíope
como só dela
cantado
o que te salva
o que te afina
o que te leva
podes ter tu visto a morte de uns quantos
e a miséria de uns quantos
e a gaguez de uns tantos
como Teresa
rezado pelo sangue de uns poucos
velado pela alma de uns outros
e distribuído garrafas de água numa barraquinha da maratona
Como Hermione
chorado, suplicado
ironizado
E como Calíope
como só dela
cantado
o que te salva
o que te afina
o que te leva
quarta-feira, 5 de maio de 2010
tudo isto porque em mim
as línguas são sempre tremores:
umas adensam-se mais a norte do ventre
outras mais a sul
umas parecem congelar-me o peito
enquanto se enrijecem nas pontas dos meus dedos
(e a rima lá chega tão óbvia quanto precisa)
há línguas cheias de medos
há a língua fortaleza
e uma língua binarista
para não haver confusões lapidares
há uma língua conquista
e uma língua dos favores
e há sempre línguas recessas
avessas
(e, bem, lá está a rima)
línguas travessas
línguas janelas, línguas escadas
língua mãe casa
língua trela
língua asa
e língua nascida em cofre-forte
língua de corte
e língua que cose
língua barata e de consorte
língua palavra
maldita
reformada
encavalitada
língua sombra
encurralada
língua vaca
língua puta
língua estria
língua carne
língua veia
língua assombro
língua dura
língua leite e língua morte
há a língua que arrepia
e uma língua nova, míope
língua estrada ou horizonte
há uma língua deserta
e uma despovoada
uma é ainda virgem, a outra foi abandonada
haverá uma língua grávida
e uma língua tudo ou nada
e há pois todo o sangue que nos acompanha
os saltos
as névoas
as trovoadas
e partidas iguais às chegadas
umas adensam-se mais a norte do ventre
outras mais a sul
umas parecem congelar-me o peito
enquanto se enrijecem nas pontas dos meus dedos
(e a rima lá chega tão óbvia quanto precisa)
há línguas cheias de medos
há a língua fortaleza
e uma língua binarista
para não haver confusões lapidares
há uma língua conquista
e uma língua dos favores
e há sempre línguas recessas
avessas
(e, bem, lá está a rima)
línguas travessas
línguas janelas, línguas escadas
língua mãe casa
língua trela
língua asa
e língua nascida em cofre-forte
língua de corte
e língua que cose
língua barata e de consorte
língua palavra
maldita
reformada
encavalitada
língua sombra
encurralada
língua vaca
língua puta
língua estria
língua carne
língua veia
língua assombro
língua dura
língua leite e língua morte
há a língua que arrepia
e uma língua nova, míope
língua estrada ou horizonte
há uma língua deserta
e uma despovoada
uma é ainda virgem, a outra foi abandonada
haverá uma língua grávida
e uma língua tudo ou nada
e há pois todo o sangue que nos acompanha
os saltos
as névoas
as trovoadas
e partidas iguais às chegadas
domingo, 2 de maio de 2010
I'm a widow
I'm a window
I'm a plumber and a keeper
I'm the air
I'm the hands
and the voice you will beseech
I'm the anchor
and the coat
when nothing else will row the boat
I'm a sailor
I'm the tailor
I'll be the storm as I am the bailey
never the bailor
never your bailer
I'm an archer
I'm a torch
I am light being your black
and that's why we'll always come back
and always one step ahead
I'm a sister
I'm your lover
not a leech you struggle over
mirror mirror what can you say?
enjoy the flesh of this array
sleeping beauty before dismay
no faults, no fouls
no aching hearts to be devoured
no rain
no blame
no fear
only love can bring us near
I'm a window
I'm a plumber and a keeper
I'm the air
I'm the hands
and the voice you will beseech
I'm the anchor
and the coat
when nothing else will row the boat
I'm a sailor
I'm the tailor
I'll be the storm as I am the bailey
never the bailor
never your bailer
I'm an archer
I'm a torch
I am light being your black
and that's why we'll always come back
and always one step ahead
I'm a sister
I'm your lover
not a leech you struggle over
mirror mirror what can you say?
enjoy the flesh of this array
sleeping beauty before dismay
no faults, no fouls
no aching hearts to be devoured
no rain
no blame
no fear
only love can bring us near
sábado, 24 de abril de 2010
A palavra finalmente adormeceu. Necessário foi muito embalar, muito sussurrar, muito aconchegar. Mas para já dorme, dorme ainda, em sono não tão pesado quanto feliz. Não a acordes, por favor. Só desta vez, deixa-a dormir. Mesmo ganhando a guerra, não quer dizer que se saia ileso das batalhas. Descansa por isso a tua também, que o reinado será como sempre longo, duro, e ofegante.
Neste conto, são sempre os silêncios que resolvem os conflitos.
Neste conto, são sempre os silêncios que resolvem os conflitos.
domingo, 18 de abril de 2010
sábado, 27 de março de 2010
mas o grito, não mo levam, nem mo tombam
ofelianamente
ele
progride
e
regride
terminações que apenas pertencem uma à outra
para elas não encontro correspondência
seja por saber ou por ignorância
(mais me inclinaria para a segunda)
mas talvez por recalcamento
ou simples estancamento
de qualquer das formas, falaremos sempre de obtusidades
circulares obtusidades
(hoje deixo-me perder o ritmo)
precisava de uma rima nova
para assobiar ao vento
(hoje deixo-me abrir parêntesis)
estas nunca chegam para dizer o quanto lamento
ofelianamente
ele
progride
e
regride
terminações que apenas pertencem uma à outra
para elas não encontro correspondência
seja por saber ou por ignorância
(mais me inclinaria para a segunda)
mas talvez por recalcamento
ou simples estancamento
de qualquer das formas, falaremos sempre de obtusidades
circulares obtusidades
(hoje deixo-me perder o ritmo)
precisava de uma rima nova
para assobiar ao vento
(hoje deixo-me abrir parêntesis)
estas nunca chegam para dizer o quanto lamento
segunda-feira, 22 de março de 2010
faça-se lá então o sol:
certas noites salgadas fazem-nos escorregar as almas
há que as cobrir de ouro líquido, que a prata deixa sempre um travo frio
e tendo em conta a natureza dos nossos contágios
que se assumam as precedências
os ruídos
as interferências
de umas muitas horas persas
e das outras todas em que não somos cá
é quando estás que te sinto
por isso te digo simplesmente que podes voltar sempre que quiseres
nas madrugadas nossas apenas os mortos se choram
e precisamente por isso te digo que podes partir sempre que quiseres
e ser o homem que quiseres, e a mulher que quiseres, e a criança que quiseres
entre o mi e o si não pode haver lugar para naufrágios
certas noites salgadas fazem-nos escorregar as almas
há que as cobrir de ouro líquido, que a prata deixa sempre um travo frio
e tendo em conta a natureza dos nossos contágios
que se assumam as precedências
os ruídos
as interferências
de umas muitas horas persas
e das outras todas em que não somos cá
é quando estás que te sinto
por isso te digo simplesmente que podes voltar sempre que quiseres
nas madrugadas nossas apenas os mortos se choram
e precisamente por isso te digo que podes partir sempre que quiseres
e ser o homem que quiseres, e a mulher que quiseres, e a criança que quiseres
entre o mi e o si não pode haver lugar para naufrágios
quarta-feira, 10 de março de 2010
velha. seca. amargurada.
sobre isto me falava margarida, despojada já da vida.
alma não vendo. mas alugo.
as lamúrias ao diabo, que as preces devolvo ao sangue
sonhei um dia que ele era branco
e do negro não mais saí
contratempos
meros contratempos
engalfinhados noutros tempos
faustosas
estas memórias da carne sugerem
geram por baixo
da pele
dentro da tal alma
um desconforto imenso
e socorrem
sozinhas
correm a estrada do pensamento
escorregam
e esfolam-me os joelhos
sobre isto me falava margarida, despojada já da vida.
alma não vendo. mas alugo.
as lamúrias ao diabo, que as preces devolvo ao sangue
sonhei um dia que ele era branco
e do negro não mais saí
contratempos
meros contratempos
engalfinhados noutros tempos
faustosas
estas memórias da carne sugerem
geram por baixo
da pele
dentro da tal alma
um desconforto imenso
e socorrem
sozinhas
correm a estrada do pensamento
escorregam
e esfolam-me os joelhos
quarta-feira, 3 de março de 2010
Summer Tale.
(I am done with all this Winter: nothing but muddy shortcuts, an unkind weather, and some really bad rhymes. The worst time to make a record. And maybe the best time to make a child, why not? Maybe the best time to solve these scratchy-cratchy-atchy-itchy-itchy riddles, and definitely the best time to open that bottle of wine you keep hidden behind the encyclopaedic dictionary. Maybe the worst time to come by, and maybe the best time to say hi. Shall we lay our swords on common ground? Besee the torchers twirling from the middle of the sea, and beseech this foreign light for a little help, just a few crumbles of understanding, just to keep you goin', you see?... Only warmth can keep you innocent: you may not fight fire with ice, but you may fight the ice with your fire. Depth is only a matter of Death. A Winter's Judgement, so to speak. An act of Closure. The Opening, night or day, night and day, or any roundabout afternoon. Foolish, one might say, if meaning the hour of the fools. But now again, I am done with all the Winters. They have Spring written all over them. )
(I am done with all this Winter: nothing but muddy shortcuts, an unkind weather, and some really bad rhymes. The worst time to make a record. And maybe the best time to make a child, why not? Maybe the best time to solve these scratchy-cratchy-atchy-itchy-itchy riddles, and definitely the best time to open that bottle of wine you keep hidden behind the encyclopaedic dictionary. Maybe the worst time to come by, and maybe the best time to say hi. Shall we lay our swords on common ground? Besee the torchers twirling from the middle of the sea, and beseech this foreign light for a little help, just a few crumbles of understanding, just to keep you goin', you see?... Only warmth can keep you innocent: you may not fight fire with ice, but you may fight the ice with your fire. Depth is only a matter of Death. A Winter's Judgement, so to speak. An act of Closure. The Opening, night or day, night and day, or any roundabout afternoon. Foolish, one might say, if meaning the hour of the fools. But now again, I am done with all the Winters. They have Spring written all over them. )
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
abaixo do baixo ventre se encontra a sola ou quanto mais andas mais sangras e os sapatos querem-se vermelhos que o azul é para os meninos
é do alto dos meus saltos que mando tudo para um certo inferno
são poucos os vivos
mas ainda menos são os mortos
nada mudou
enquanto há pés nos saltos o que menos interessa são os atacadores
o mesmo não serve para os tornozelos
esses depravados nunca querem saber do futuro
para eles o presente é algo que se ofereceu um dia a um pé ausente
esses delinquentes são a madrasta da cinderela
as irmãs da cinderela
e uma maçã envenenada que entrou pela história dentro
esses famigerados
obtusos diabos esfomeados
elos lassos que nunca distinguem o príncipe das trevas
são poucos os vivos
mas ainda menos são os mortos
nada mudou
enquanto há pés nos saltos o que menos interessa são os atacadores
o mesmo não serve para os tornozelos
esses depravados nunca querem saber do futuro
para eles o presente é algo que se ofereceu um dia a um pé ausente
esses delinquentes são a madrasta da cinderela
as irmãs da cinderela
e uma maçã envenenada que entrou pela história dentro
esses famigerados
obtusos diabos esfomeados
elos lassos que nunca distinguem o príncipe das trevas
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
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