quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
quem julgue suster os poderes do tempo
que se abstenha
pelo menos por agora
pelo menos no enquanto
há chuva que não molha
e quem se abstém que se espante
isto não é só matemática
não é só solfejo
ou mera questão de traquejo
nenhum alfabeto basta
há que abrir o "e" ao sortilégio
assumir plenamente o privilégio de estar só
infinitamente só
e por isso saber-me ao teu lado
que se abstenha
pelo menos por agora
pelo menos no enquanto
há chuva que não molha
e quem se abstém que se espante
isto não é só matemática
não é só solfejo
ou mera questão de traquejo
nenhum alfabeto basta
há que abrir o "e" ao sortilégio
assumir plenamente o privilégio de estar só
infinitamente só
e por isso saber-me ao teu lado
domingo, 13 de dezembro de 2009
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
(quase todos os direitos reservados ao lado esquerdo do peito)
...
...
...
...
Foi uma raposa do século XX
Uma lady na mesa
Uma devota na ópera
Um fantasma na sacristia
Juncos no fundo do rio
E eu rio, senhores,
Eu rio,
É dos calafrios.
Calados os frios.
Estancados
Pelos copos entornados
Corpos escancarados
Torrentes de anis
Anaïs
Uma fogueira, numa clareira
É uma lareira
Freira, sim, e com tormento
Tudo pelo alento, pelo castro
Em suma,
Pelo mastro
A irromper pelo convento
Matreira, sim, também, sempre,
O diabo a quanto obriga
A mulher que é a serpente
Auxilia,
Arrepia
Anemia.
Naná chora as camélias
Desconversam-se as ofélias
Algo morno,
Algo em torno,
A paralisia do masculino na catástrofe verborreica
Todas unidas na hecatombe emocional,
Transverso sensorial,
Amor ocasional.
Tanto como,
Entorpecido o caminho para casa,
Encontrar um sapato de cristal na calçada
Que esfarelamos como a memória pelo esquecimento
Que esfarelamos com a memória
Pelo (para o) esquecimento
Mágoas leva-as o vento,
Ou a estrada,
Ou a água.
Fia, Sophia,
Que o teu sonho ainda cá mora
Teresas vão e voltam e te aguardam à nossa porta
É que certos arremessos não arredam de alma torta
Nem náusea, nem peste, nem jaula
Quanto falta para acabar a aula?
Ofélia é morta.
Penélope já só suspira de tédio,
Safo tirou medicina,
É doutora em priapismo
E Medeia enveredou pelos caminhos do stand-up
Paga as contas e os vícios e os sapatos
Tudo, para compensar os gastos
Joana empunha o arco
Vanessa corre pelo asfalto
Em busca talvez do amor de Alcoforado
Britney convertida aos despachos da alcova
Salve-se, Sade se puder,
Salve-nos Sade, se conseguir
De um amor que nos querem prender
assim que suspiramos mais alto
E Nina chora e chora e chora
Chora, Nina, pelos estragos
Que homem te soube criar
Mas não te soube suster.
...
...
...
Foi uma raposa do século XX
Uma lady na mesa
Uma devota na ópera
Um fantasma na sacristia
Juncos no fundo do rio
E eu rio, senhores,
Eu rio,
É dos calafrios.
Calados os frios.
Estancados
Pelos copos entornados
Corpos escancarados
Torrentes de anis
Anaïs
Uma fogueira, numa clareira
É uma lareira
Freira, sim, e com tormento
Tudo pelo alento, pelo castro
Em suma,
Pelo mastro
A irromper pelo convento
Matreira, sim, também, sempre,
O diabo a quanto obriga
A mulher que é a serpente
Auxilia,
Arrepia
Anemia.
Naná chora as camélias
Desconversam-se as ofélias
Algo morno,
Algo em torno,
A paralisia do masculino na catástrofe verborreica
Todas unidas na hecatombe emocional,
Transverso sensorial,
Amor ocasional.
Tanto como,
Entorpecido o caminho para casa,
Encontrar um sapato de cristal na calçada
Que esfarelamos como a memória pelo esquecimento
Que esfarelamos com a memória
Pelo (para o) esquecimento
Mágoas leva-as o vento,
Ou a estrada,
Ou a água.
Fia, Sophia,
Que o teu sonho ainda cá mora
Teresas vão e voltam e te aguardam à nossa porta
É que certos arremessos não arredam de alma torta
Nem náusea, nem peste, nem jaula
Quanto falta para acabar a aula?
Ofélia é morta.
Penélope já só suspira de tédio,
Safo tirou medicina,
É doutora em priapismo
E Medeia enveredou pelos caminhos do stand-up
Paga as contas e os vícios e os sapatos
Tudo, para compensar os gastos
Joana empunha o arco
Vanessa corre pelo asfalto
Em busca talvez do amor de Alcoforado
Britney convertida aos despachos da alcova
Salve-se, Sade se puder,
Salve-nos Sade, se conseguir
De um amor que nos querem prender
assim que suspiramos mais alto
E Nina chora e chora e chora
Chora, Nina, pelos estragos
Que homem te soube criar
Mas não te soube suster.
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
a mim, é sempre o piano que dói
nos meus braços o correr do preto no branco
ritmo marcado a força de dedos lassos
chamemos-lhe um brilho baço
geometria do estilhaço
em sebenta colorida
e o tal cansaço
contraponto de uma síntese mais do que sabida
atordoado
desafinado
e ainda que por vezes descalço
(sempre o desejo do pé descalço)
gelado
enregelado
a voz
o escape
da poluição entranhada
(bílis desclausurada)
nos meus braços o correr do preto no branco
ritmo marcado a força de dedos lassos
chamemos-lhe um brilho baço
geometria do estilhaço
em sebenta colorida
e o tal cansaço
contraponto de uma síntese mais do que sabida
atordoado
desafinado
e ainda que por vezes descalço
(sempre o desejo do pé descalço)
gelado
enregelado
a voz
o escape
da poluição entranhada
(bílis desclausurada)
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
terça-feira, 17 de novembro de 2009
petição ao piano sem cauda
a determinada altura, dir-se-ia que chorava
a guitarra, pois
mas depois, e de repente
a epifania
são cordas, senhor, são cordas
serão sempre cordas, meu amor
as minhas
as tuas
e o contorno das deles
das cordas se farão correntes
amarras e sobreviventes
tenho a alma congelada
acordei-me a uma voz dormente
encurralei-me no contratempo
e na reverberação artificial do cantar no sítio errado
é o chão que a voz tem que segurar, menina, nunca o seu destino
e agora só mais umas redundâncias vaporosas a anteceder a imagem sonora
a verdadeira imagem sonora, a origem da tragédia proscrita
um corredor
um enorme corredor escuro para alojar o teu desconsolo
e algumas janelas para escorraçar o tédio
a guitarra, pois
mas depois, e de repente
a epifania
são cordas, senhor, são cordas
serão sempre cordas, meu amor
as minhas
as tuas
e o contorno das deles
das cordas se farão correntes
amarras e sobreviventes
tenho a alma congelada
acordei-me a uma voz dormente
encurralei-me no contratempo
e na reverberação artificial do cantar no sítio errado
é o chão que a voz tem que segurar, menina, nunca o seu destino
e agora só mais umas redundâncias vaporosas a anteceder a imagem sonora
a verdadeira imagem sonora, a origem da tragédia proscrita
um corredor
um enorme corredor escuro para alojar o teu desconsolo
e algumas janelas para escorraçar o tédio
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
sábado, 14 de novembro de 2009
infiltrações desejadas
espécie de matriz enciclopédica
da mãe enclausurada
tremente
escapemos por favor ao cadavérica
esta sede vai bem mais fundo que o inferno
e a rima só desaustina as braçadas para a outra margem
besunta-me lá de vão conhecimento
e partirei simplesmente
isso que a cabeça fala já o corpo pressente
esse esfaimado devorado
o dono da febre e do telúrio
sensual esfaqueador de asas
é conceito por demais vazio
e esse azul será apenas teu
metal meu será sempre mais vermelho
mais diluído
sempre aguerrido
e sempre desgarrado
e consumado o destino ainda lhe sobra o fôlego para cobrir o sol com o teu dó
mas o que soçobra é o acordar do mi
num acorde laranja vivo e denso
ouro fiel e manso pautado pelos dedos mais velhos do mundo
e nas tuas mãos
o sangue
o meu sangue ainda quente
afligem-me ainda e apenas essas andorinhas esventradas por um outono sonolento
essas notas alheias sopradas ao vento
e umas quantas rimas inusitadas
da mãe enclausurada
tremente
escapemos por favor ao cadavérica
esta sede vai bem mais fundo que o inferno
e a rima só desaustina as braçadas para a outra margem
besunta-me lá de vão conhecimento
e partirei simplesmente
isso que a cabeça fala já o corpo pressente
esse esfaimado devorado
o dono da febre e do telúrio
sensual esfaqueador de asas
é conceito por demais vazio
e esse azul será apenas teu
metal meu será sempre mais vermelho
mais diluído
sempre aguerrido
e sempre desgarrado
e consumado o destino ainda lhe sobra o fôlego para cobrir o sol com o teu dó
mas o que soçobra é o acordar do mi
num acorde laranja vivo e denso
ouro fiel e manso pautado pelos dedos mais velhos do mundo
e nas tuas mãos
o sangue
o meu sangue ainda quente
afligem-me ainda e apenas essas andorinhas esventradas por um outono sonolento
essas notas alheias sopradas ao vento
e umas quantas rimas inusitadas
terça-feira, 10 de novembro de 2009
as porcelanas.
as salamandras.
as cortinas.
rezará porventura a história dos crocodilos?
ou dos devoradores de vidros?
dos dós sustenidos?
dos sis contraídos?
quem te fez acreditar que só um final era possível?
que o aí e o aqui não podiam existir a um tempo certo?
mesmo sabendo quem te criou
o que falta saber
o que te falta mesmo saber
a ré
do lá
(e um fá para mi a saber a limão)
será que é preciso ver
para deixar de crer?
e do ouvir?
e do haver?
e do largar?
cuidar.
cuidar.
as salamandras.
as cortinas.
rezará porventura a história dos crocodilos?
ou dos devoradores de vidros?
dos dós sustenidos?
dos sis contraídos?
quem te fez acreditar que só um final era possível?
que o aí e o aqui não podiam existir a um tempo certo?
mesmo sabendo quem te criou
o que falta saber
o que te falta mesmo saber
a ré
do lá
(e um fá para mi a saber a limão)
será que é preciso ver
para deixar de crer?
e do ouvir?
e do haver?
e do largar?
cuidar.
cuidar.
sábado, 31 de outubro de 2009
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
cimentar
concretizar
descarnar
(é em triângulos que costumo dobrar a minha linha)
estico o olhar que me resta para longe das sombras
e das caixinhas de veludo azul
cada uma com a sua chave
perfeita
dourada
e cheia de rebites
como se o ouro fosse porventura calar o nevoeiro
ou aliviar o fardo da melodia
todos esses extremíssimos agudos
são só tombos na gravidade, apertos no estômago e dentes de lobo
são a carne que com a carne trincha a carne
é bem mais grave a velada gravidez da linha recta
do baixo sopro a vibrar na madeira que reveste o teu coração de pedra
e o desejo cinzento das palavras em granito
grave, denso, enevoado
pontuando a negro as vírgulas e as reticências
solares nódoas negras
fundas crateras
e magníficos rasgões de luz
concretizar
descarnar
(é em triângulos que costumo dobrar a minha linha)
estico o olhar que me resta para longe das sombras
e das caixinhas de veludo azul
cada uma com a sua chave
perfeita
dourada
e cheia de rebites
como se o ouro fosse porventura calar o nevoeiro
ou aliviar o fardo da melodia
todos esses extremíssimos agudos
são só tombos na gravidade, apertos no estômago e dentes de lobo
são a carne que com a carne trincha a carne
é bem mais grave a velada gravidez da linha recta
do baixo sopro a vibrar na madeira que reveste o teu coração de pedra
e o desejo cinzento das palavras em granito
grave, denso, enevoado
pontuando a negro as vírgulas e as reticências
solares nódoas negras
fundas crateras
e magníficos rasgões de luz
sábado, 17 de outubro de 2009
desejo de mão descalça em ombro nu
(ou mais um arremesso por falta de caneta)
condensar
expropriar
diluir
lembro-me de o calo existir desde a queda do muro
um indicador de força constantemente a pisar o irmão do meio
isto, quando as ideias não eram vapores
e eu ainda subia às árvores
agora o encantamento faz-se paralisia e a ânsia sonolência
os calos pertencem aos calcanhares
a maior parte das vezes, pelo menos
condensar
expropriar
diluir
lembro-me de o calo existir desde a queda do muro
um indicador de força constantemente a pisar o irmão do meio
isto, quando as ideias não eram vapores
e eu ainda subia às árvores
agora o encantamento faz-se paralisia e a ânsia sonolência
os calos pertencem aos calcanhares
a maior parte das vezes, pelo menos
terça-feira, 6 de outubro de 2009
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
para o eterno não há cura
vem matar-me o cinismo
por favor
vem queimar-me as entranhas e profanar a poesia:
é assim que ela se alimenta, morrendo de cada vez
vem sufocar-me a rima:
pode ser que o que se esconde atrás dela surja assim sem as palavras
e vem por favor riscar-me da pele o contrato com este tempo:
dá-me a sede, que o meu corpo quer incêndio
e está-se nas tintas para a cicatriz
é lembrando tudo que o retorno te assiste
é querendo tudo
a falha, a dobra, o precipício
o risco
sobretudo a vertigem
vem por favor lembrar-me da vertigem:
não me esqueci ainda que é ela o signo da altura
por favor
vem queimar-me as entranhas e profanar a poesia:
é assim que ela se alimenta, morrendo de cada vez
vem sufocar-me a rima:
pode ser que o que se esconde atrás dela surja assim sem as palavras
e vem por favor riscar-me da pele o contrato com este tempo:
dá-me a sede, que o meu corpo quer incêndio
e está-se nas tintas para a cicatriz
é lembrando tudo que o retorno te assiste
é querendo tudo
a falha, a dobra, o precipício
o risco
sobretudo a vertigem
vem por favor lembrar-me da vertigem:
não me esqueci ainda que é ela o signo da altura
domingo, 20 de setembro de 2009
adeiar
às vezes as minhas ideias são um bocado desgrenhadas. sá-carneiro, o mário atento, e não o do atentado, talvez as achasse ruivas. outros haverá que as poderão achar aladas demais, que é como quem diz um pouco chaladas. outros mários as dirão porventura um tanto ou mais cerebrais. a mim a maior parte das noites servem-me bem. confundem-se umas com as outras e revelam sempre novos graus (ou asas de grous). é embaraçando-se que se cruzam para tecer o pano do véu em puzzle, como bordadeiras do próprio pão. são também vorazes parasitas umas das outras. e com isso vivem bem. e eu deitava-me bem com elas.
mas agora ao nascer do dia elas parecem-me simplesmente ideias e aí as ideias parecem-me menos do que ar porque já não servem para respirar e por isso é aí que eu quase desisto e me demoro tanto a levantar. é de manhã que as ideias me doem. e é por isso que as minhas noites nunca querem ir dormir. por saber que um quase, invariavelmente neste caso, se transformará sempre num devir e que é isto tudo, cada linha, cada letra, cada sopro, apenas mais um pequeno encadear num pequeno encadear a que se chamam as ideias, e que essas para mais não servem do que para o adiar.
respira, ana, respira. faz-te o favor de respirar.
mas agora ao nascer do dia elas parecem-me simplesmente ideias e aí as ideias parecem-me menos do que ar porque já não servem para respirar e por isso é aí que eu quase desisto e me demoro tanto a levantar. é de manhã que as ideias me doem. e é por isso que as minhas noites nunca querem ir dormir. por saber que um quase, invariavelmente neste caso, se transformará sempre num devir e que é isto tudo, cada linha, cada letra, cada sopro, apenas mais um pequeno encadear num pequeno encadear a que se chamam as ideias, e que essas para mais não servem do que para o adiar.
respira, ana, respira. faz-te o favor de respirar.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Então é assim... fazendo bem as contas, à vida e às nóias e aos apegos e seus contrários: no final da matemática espiritual, importa é saber que há ainda quem espere por nós para começar o concerto.
E nós, público cheio de soberba que só se atrasa por vis motivos, talvez não nos livremos da baba e do ranho se atropelarmos de novo o tempo e não eliminarmos a distância. E nós, que um dia criámos espaços de tempo fora de uma vida que nos pede sempre uma caução, talvez nos safemos, se quando for realmente necessário a memória não nos falhar.
E nós, público cheio de soberba que só se atrasa por vis motivos, talvez não nos livremos da baba e do ranho se atropelarmos de novo o tempo e não eliminarmos a distância. E nós, que um dia criámos espaços de tempo fora de uma vida que nos pede sempre uma caução, talvez nos safemos, se quando for realmente necessário a memória não nos falhar.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
conflito puramente virtual:
fazer a história é escrever a história
vs.
escrever a história é fazer a história
e se for contar histórias,
em que é que ficamos? mh?
já extrapolámos os sentidos gramaticais há muito tempo
de outra maneira nunca nos teríamos perdoado
doer, não dói
foi anestesiado para que não fosse perdido
escorraçado
e por erro
remediado
dependurado
o enforcado é só um jogo, crescemos com ele, até lhe estendemos a corda se for preciso
é sempre tudo um sonho, não há mal passível de resultado real
experimenta
crava mais fundo a chaga e sê violento com a corda
amanhã estou cá outra vez
para te lembrar de onde vens
e para onde nunca vais
fazer a história é escrever a história
vs.
escrever a história é fazer a história
e se for contar histórias,
em que é que ficamos? mh?
já extrapolámos os sentidos gramaticais há muito tempo
de outra maneira nunca nos teríamos perdoado
doer, não dói
foi anestesiado para que não fosse perdido
escorraçado
e por erro
remediado
dependurado
o enforcado é só um jogo, crescemos com ele, até lhe estendemos a corda se for preciso
é sempre tudo um sonho, não há mal passível de resultado real
experimenta
crava mais fundo a chaga e sê violento com a corda
amanhã estou cá outra vez
para te lembrar de onde vens
e para onde nunca vais
domingo, 23 de agosto de 2009
Something stronger than old bias
She will not bail
Will she? Will she not?
Only the room should be a mistake
Only the walls
Never the blood
Steal your present
Not the future still
I check
You fold
Another line. Another sentence, please.
I rest my head upon the table
I will not bail
It will always be your mistake
My gain
The mirror is on the table
I rest my life upon the mirror
I raise
Strangely it sounds better than to rise
Whose word now?
My mistake this time.
Thought you would always be my partner in crime
You bet I was yours
but then
in another town
the dry begin to cry
in the same old another town
in the same old skeletons
in the same almost
almost always far apart
almost always far
There's more than a straight flush to end this
More than mathematics
More than academia
So you have what you asked for
We always get what we ask for
So why won't I ask for you instead?
Why won't you ask me?
we both know a simple clue acts always as the necessary glue
to mend this
to sever this
and it always strikes as a kind of instead
and as a kind instead
numbers adding numbers
and for the time will be
And we both know I am not in the queue for winning a cue in your latest movie
We both know when it's a lie
Feel no shame
Enjoy the game
She will not bail
Will she? Will she not?
Only the room should be a mistake
Only the walls
Never the blood
Steal your present
Not the future still
I check
You fold
Another line. Another sentence, please.
I rest my head upon the table
I will not bail
It will always be your mistake
My gain
The mirror is on the table
I rest my life upon the mirror
I raise
Strangely it sounds better than to rise
Whose word now?
My mistake this time.
Thought you would always be my partner in crime
You bet I was yours
but then
in another town
the dry begin to cry
in the same old another town
in the same old skeletons
in the same almost
almost always far apart
almost always far
There's more than a straight flush to end this
More than mathematics
More than academia
So you have what you asked for
We always get what we ask for
So why won't I ask for you instead?
Why won't you ask me?
we both know a simple clue acts always as the necessary glue
to mend this
to sever this
and it always strikes as a kind of instead
and as a kind instead
numbers adding numbers
and for the time will be
And we both know I am not in the queue for winning a cue in your latest movie
We both know when it's a lie
Feel no shame
Enjoy the game
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
the oister is a cloister and the snail lives alone
de volta à senda do convento
apercebo-me que o segredo está na ostra
e que afinal é isto tudo uma forma diferente do mesmo afrodisíaco
e que esse tão velho sufoco que te angustia é só ar e apenas ar quente
finges-te sempre dormente para que não te levem a mal a inércia
para que não te arrombem a indolência ou te incrustem uma sombra alheia
provarás agora o verdadeiro sentido da apneia
o que te ficará a faltar
no fim de tudo
será o sono e não o ar
e a isso tudo te assiste um treino habituado
e a contornar-te só a própria carapaça
amplificador de um mar de ti
que reverbera o som da terra
sem te chegar a tocar a lama
e se as horas se estenderem em parto
levar sempre presente
que os sonhos não se cobram
sonham-se
apercebo-me que o segredo está na ostra
e que afinal é isto tudo uma forma diferente do mesmo afrodisíaco
e que esse tão velho sufoco que te angustia é só ar e apenas ar quente
finges-te sempre dormente para que não te levem a mal a inércia
para que não te arrombem a indolência ou te incrustem uma sombra alheia
provarás agora o verdadeiro sentido da apneia
o que te ficará a faltar
no fim de tudo
será o sono e não o ar
e a isso tudo te assiste um treino habituado
e a contornar-te só a própria carapaça
amplificador de um mar de ti
que reverbera o som da terra
sem te chegar a tocar a lama
e se as horas se estenderem em parto
levar sempre presente
que os sonhos não se cobram
sonham-se
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
quinta-feira, 30 de julho de 2009
vejo do cais um cais
rasgar rasgar rasgar
deixares-te romper
não corromper
mas irromper
sem mastro
sem castro
principalmente
sem cadastro
sem redoma
nem retoma
e sempre esta tortura da clausura em que te enfias
como se estar nu fosse o mesmo que usar véu
como se o livre fosse o sozinho
ou o sozinho fosse bastardo
da alma dizer por vezes
frangalho
ou coalho
é tudo aliás e no fundo
uma questão de baralho
cartas que só diferem na contracapa
(aparentemente)
há o bluff
o cenário
um espírito em contraplacado
desde cedo habituado
ao jogo
o mais certo é ser apenas medo misturado com cansaço
e a memória de umas asas de zoroastro
até que
tudo pelo que
tudo para que
no dissolver da gramática
certas teias tecidas de longe
algures entre a morfina e o chocolate
se peguem ao teu corpo
tudo por esse finalmente
em que te enrouquece a voz mas já não se ensurdece a lente
deixares-te romper
não corromper
mas irromper
sem mastro
sem castro
principalmente
sem cadastro
sem redoma
nem retoma
e sempre esta tortura da clausura em que te enfias
como se estar nu fosse o mesmo que usar véu
como se o livre fosse o sozinho
ou o sozinho fosse bastardo
da alma dizer por vezes
frangalho
ou coalho
é tudo aliás e no fundo
uma questão de baralho
cartas que só diferem na contracapa
(aparentemente)
há o bluff
o cenário
um espírito em contraplacado
desde cedo habituado
ao jogo
o mais certo é ser apenas medo misturado com cansaço
e a memória de umas asas de zoroastro
até que
tudo pelo que
tudo para que
no dissolver da gramática
certas teias tecidas de longe
algures entre a morfina e o chocolate
se peguem ao teu corpo
tudo por esse finalmente
em que te enrouquece a voz mas já não se ensurdece a lente
quarta-feira, 29 de julho de 2009
segunda-feira, 20 de julho de 2009
E agora, descalça...
Ela nunca tinha percebido que existia uma enorme diferença entre o desistir e o acabar.
E por isso moía, remoía, feita menina mimada que nunca quer largar o cobertor, sempre à espera do frio, para chegar ao quente.
Hoje, ou ontem, ou antes de ontem, porque os dias por vezes esticam-se para além dos seus limites e duram muito mais do que as horas do costume... bem, Hoje, ela sabe o que é começar.
- Começar-Se -
É que isto para trás foi apenas um prefácio.
E por isso moía, remoía, feita menina mimada que nunca quer largar o cobertor, sempre à espera do frio, para chegar ao quente.
Hoje, ou ontem, ou antes de ontem, porque os dias por vezes esticam-se para além dos seus limites e duram muito mais do que as horas do costume... bem, Hoje, ela sabe o que é começar.
- Começar-Se -
É que isto para trás foi apenas um prefácio.
segunda-feira, 13 de julho de 2009
a palavra é, sem dúvida, longe. longe para a frente, longe para trás, memória ou desejo, a coisa em si fica sempre longe. um bocadinho mais longe para cima, que isto é tudo imenso e indeterminado, um bocadinho mais longe para baixo, que isto já se viu tudo e esse todo enorme vai ser sempre só um nada ainda mais profundo, até pode ser assim um bocadinho mais longe na diagonal, para dar balanço, e assim um bocadinho mais longe na preguiça, ou um bocadinho mais longe mais depressa, mas um bocadinho mais longe. o longe é o que te fica mais perto.
e o aqui, esse é aquele que sempre na mira nunca te pertence ao agora.
e o aqui, esse é aquele que sempre na mira nunca te pertence ao agora.
sábado, 11 de julho de 2009
da ideia
calcar
calcar para não fugir
para não voar
não perder
calcar
recalcar
para enterrar
e assim preservar
cimentar
calcar para recriar
empurrar
fazer descer
plantar
esperar
e como cactos
de tempo a tempo
regar
e como pão
deixar levedar
bem coberta
para
com muita paciência
um dia poder simplesmente nascer
calcar para não fugir
para não voar
não perder
calcar
recalcar
para enterrar
e assim preservar
cimentar
calcar para recriar
empurrar
fazer descer
plantar
esperar
e como cactos
de tempo a tempo
regar
e como pão
deixar levedar
bem coberta
para
com muita paciência
um dia poder simplesmente nascer
terça-feira, 7 de julho de 2009
Erinnerung von Zahlen
Sie sagte, ein anderes Königreich wartet. Der ist der Unterschied zwischen ein und zwei. Das andere, die drei, wird bereits genommen.
Frau K.
Frau K.
quinta-feira, 2 de julho de 2009
auto-retrato III, versão narrativa
porque ela gosta mesmo é de flirtar com o padeiro, que tem bom timbre e nome francês. e de passar a grande avenida da nossa pequena república a 180 km/h. estranhamente, também gosta quando uma desconhecida, gira por sinal, lhe escreve love no pulso, que ela gosta mesmo muito de ver sempre magro. o que ela gosta é de ouvir só a guitarra, quando soa ao mar. e de dar trincas nos ombros dos amigos que são aquela família longíncua mas sempre perto, enquanto morde uma raivazinha escondida que não sabe muito bem de onde vem, mas que sabe que é tremendamente vermelha, e do lado oposto. o que ela gosta mesmo é de ter saudades da irmã , e de gostar mais de quando ela está por perto. de desafinar, porque algo lhe diz que isso não é o mais fácil. e de esticar a corda, mais do que saltar à corda. o que ela gosta mesmo é de enumerar o que não suporta.
ou então.
o que ela gosta mesmo, acima de tudo, é sentir que chegou a casa.
ou então.
o que ela gosta mesmo, acima de tudo, é sentir que chegou a casa.
domingo, 28 de junho de 2009
casa de noz
eeehhh láaa.
um quase vislumbre
dos nós do tempo
do nós
de um tempo
e de outro que se lhe possa
seguir
e de um depois disso
agora só
um talvez incongruente
se da tua própria boca sair
e se a tua alma falhar
principalmente se a tua alma falhar
ao Tempo
o convite ao eterno
para sempre
em vida
insatisfeito
a agonia do que se crê eleito.
(resumo de 11 páginas de espírito contrafeito.)
um quase vislumbre
dos nós do tempo
do nós
de um tempo
e de outro que se lhe possa
seguir
e de um depois disso
agora só
um talvez incongruente
se da tua própria boca sair
e se a tua alma falhar
principalmente se a tua alma falhar
ao Tempo
o convite ao eterno
para sempre
em vida
insatisfeito
a agonia do que se crê eleito.
(resumo de 11 páginas de espírito contrafeito.)
sexta-feira, 26 de junho de 2009
sinal sonoro
há uma barreira atravessada por cordas que cortam um horizonte sarapintado de navios
é isto que vejo quando o sonho me diz que a imaginação também sente
é claro que não é isto, a imagem é surpreendentemente mais mundana, menos imaginativa, mas os corpos que a compõem restabelecem cortes e concordâncias que julgava já esquecidos, e sendo só corpo a vibrar, a melodia quer arder tanto que dói, e se de símbolo trata, o que me diz parece tão impenetrável quanto potencialmente mortífero. de uma maneira ou de outra, a carne parece ser ainda a mesma, as casas também.
reconhecerás, desse lado da janela, o que me desperta?
quererás tu um dia ouvir a voz que te falhou lá atrás?
é isto que vejo quando o sonho me diz que a imaginação também sente
é claro que não é isto, a imagem é surpreendentemente mais mundana, menos imaginativa, mas os corpos que a compõem restabelecem cortes e concordâncias que julgava já esquecidos, e sendo só corpo a vibrar, a melodia quer arder tanto que dói, e se de símbolo trata, o que me diz parece tão impenetrável quanto potencialmente mortífero. de uma maneira ou de outra, a carne parece ser ainda a mesma, as casas também.
reconhecerás, desse lado da janela, o que me desperta?
quererás tu um dia ouvir a voz que te falhou lá atrás?
segunda-feira, 22 de junho de 2009
auto-retrato II
no descanso da hora das cambalhotas musicais
é caso para apontar:
foram-se os dedos,
mas ficou o corpo todo
com as suas ruas me deito
dominando perfeitamente o desequilíbrio
dos seus escombros me ergo
lembrando redondamente o seu reduto
são os ossos que dominam
a carne
são os olhos
os meus olhos
os meus olhos separados
do meu ventre
este ritmo
este sopro
este suspiro
ainda
sempre
incandescente
é caso para apontar:
foram-se os dedos,
mas ficou o corpo todo
com as suas ruas me deito
dominando perfeitamente o desequilíbrio
dos seus escombros me ergo
lembrando redondamente o seu reduto
são os ossos que dominam
a carne
são os olhos
os meus olhos
os meus olhos separados
do meu ventre
este ritmo
este sopro
este suspiro
ainda
sempre
incandescente
terça-feira, 9 de junho de 2009
auto-retrato I
mais espantoso que o malho
o tralho
o corte ou a afonia
a cabal demolição do encosto cerebral
da casuística intelectual
afinal fizeste sempre de conta que este corpo não era o teu corpo
perna longa, pé comprido, olhos enormes
e braços de abraços longos, tão longos
parece que nem pertencem a este tempo, ao olhar de firmamento
a ausência de fim como tormento
pois que quando surge a rima
a aliteração é o alento
o tralho
o corte ou a afonia
a cabal demolição do encosto cerebral
da casuística intelectual
afinal fizeste sempre de conta que este corpo não era o teu corpo
perna longa, pé comprido, olhos enormes
e braços de abraços longos, tão longos
parece que nem pertencem a este tempo, ao olhar de firmamento
a ausência de fim como tormento
pois que quando surge a rima
a aliteração é o alento
quinta-feira, 4 de junho de 2009
não nos subestimem.
somos amadores profissionais.
amamos por profissão.
é coisa que ninguém nos tira.
e a perfeição é isso mesmo: a tentativa passional, nunca passiva, de sermos verdadeiramente o que somos. sem sonos à mistura.
não nos confundam,
é por não sabermos o que fazemos que eventualmente o poderemos fazer melhor.
e o pior também conta.
aqui não há fregueses. não há vendas. nem retalhos. frangalhos, nem por isso. só trabalhos.
as marcas do soalho continuam tatuadas no meu pé direito. e sempre que o sol sobe ao pico, o linólio vem ao de cima outra vez, para lembrar o caminho. de inverno cala-se, de verão estende-se à sombra. mas o joelho esquerdo ainda pena pelos erros, certas cordas de voz também. a vizinhança intacta.
vou continuar a babar-me sobre o palco, para não chorar almofada dentro.
desbocada, não calada. amuada, também não.
vou brincando com as temperaturas.
não, não há lugar para o erro. só para a tentativa.
somos amadores profissionais.
amamos por profissão.
é coisa que ninguém nos tira.
e a perfeição é isso mesmo: a tentativa passional, nunca passiva, de sermos verdadeiramente o que somos. sem sonos à mistura.
não nos confundam,
é por não sabermos o que fazemos que eventualmente o poderemos fazer melhor.
e o pior também conta.
aqui não há fregueses. não há vendas. nem retalhos. frangalhos, nem por isso. só trabalhos.
as marcas do soalho continuam tatuadas no meu pé direito. e sempre que o sol sobe ao pico, o linólio vem ao de cima outra vez, para lembrar o caminho. de inverno cala-se, de verão estende-se à sombra. mas o joelho esquerdo ainda pena pelos erros, certas cordas de voz também. a vizinhança intacta.
vou continuar a babar-me sobre o palco, para não chorar almofada dentro.
desbocada, não calada. amuada, também não.
vou brincando com as temperaturas.
não, não há lugar para o erro. só para a tentativa.
sexta-feira, 29 de maio de 2009
recado deontológico
a voz das tias. voz da ana ainda.
o tom que espere, e que bata palminhas.
que a voz dela espera apenas a tua.
(queres mesmo desafinar a par, ó mar de ontem das noites de amanhã? a praia lá está. ainda. é que o melhor da espera é o conseguir ser musical. carnal, portanto. ou cabal. what else?... um bocadinho mais quer dizer precisamente isso.)
as aulas já ficaram para trás, meu Amor. há uma certa esquina que não nos volta a encontrar, e eu só te encontro a desafinar. e para bem dos meus pecados, de vez em quando, resta esta afonia. que palavra não te encerra. não me leva. nem nos cega.
(oxalá.)
o meu cavalo sempre foi alvo, e sempre foi branco. se o teu variou...
verdade é que ainda cá estou.
o tom que espere, e que bata palminhas.
que a voz dela espera apenas a tua.
(queres mesmo desafinar a par, ó mar de ontem das noites de amanhã? a praia lá está. ainda. é que o melhor da espera é o conseguir ser musical. carnal, portanto. ou cabal. what else?... um bocadinho mais quer dizer precisamente isso.)
as aulas já ficaram para trás, meu Amor. há uma certa esquina que não nos volta a encontrar, e eu só te encontro a desafinar. e para bem dos meus pecados, de vez em quando, resta esta afonia. que palavra não te encerra. não me leva. nem nos cega.
(oxalá.)
o meu cavalo sempre foi alvo, e sempre foi branco. se o teu variou...
verdade é que ainda cá estou.
quarta-feira, 20 de maio de 2009
sábado, 16 de maio de 2009
segunda-feira, 11 de maio de 2009
quarta-feira, 6 de maio de 2009
E agora, ao lado de numerosas lições de modéstia gravadas na vossa memória pelo vosso pai, inscrevei ainda esta máxima: que só o tempo revela o que vale um grupo de desconhecidos, todas as línguas estão sempre prontas a dizer mal dos estrangeiros e facilmente se inclinam a sujá-las com insinuações. Por isso peço que não me cubram de vergonha com essa beleza que sobre vós chama o olhar dos homens.
Não é fácil olhar o tenro fruto maduro: todos querem meter-lhe o dente, homens e animais, bem no sabeis, os monstros que voam e os monstros que andam sobre o solo. Cypris proclama a atracção dos corpos cheios de sumo. Todos os homens que passam pelas virgens de formas delicadas lhes volvem olhares de encantamento, vencidos no amor. Sabendo isso, guardai-vos de sofrer ofensas que até aqui só conseguistes evitar à custa de fadigas sem conto e lavrando com a quilha do nosso barco grande extensão de mar; não vamos agora cometer erros, que seriam a nossa vergonha e uma alegria para os nossos inimigos. Mas segui os conselhos do vosso pai: tende em mais alta conta a modéstia do que a vida.
Ésquilo, As Suplicantes
Não é fácil olhar o tenro fruto maduro: todos querem meter-lhe o dente, homens e animais, bem no sabeis, os monstros que voam e os monstros que andam sobre o solo. Cypris proclama a atracção dos corpos cheios de sumo. Todos os homens que passam pelas virgens de formas delicadas lhes volvem olhares de encantamento, vencidos no amor. Sabendo isso, guardai-vos de sofrer ofensas que até aqui só conseguistes evitar à custa de fadigas sem conto e lavrando com a quilha do nosso barco grande extensão de mar; não vamos agora cometer erros, que seriam a nossa vergonha e uma alegria para os nossos inimigos. Mas segui os conselhos do vosso pai: tende em mais alta conta a modéstia do que a vida.
Ésquilo, As Suplicantes
segunda-feira, 4 de maio de 2009
poema de quem não procura a rima e a encontra sempre
Sempre
mais tarde e um pouco mais longe
um pouco mais, algo mais, em torno, um contorno
sempre sempre sempre
morno
aliterações consumadas
no tempo futuro de um depois sempre ausente
e as mãos que não podiam ver
não podiam curar
porque isto nunca se tratou de um converter
o depois há-de trazer, wittgensteinianamente
o velho pois
nele contido desde o primeiríssimo verso
e sendo que a primavera chegou mais cedo
será que o verão nos encontra a tempo certo?
mais tarde e um pouco mais longe
um pouco mais, algo mais, em torno, um contorno
sempre sempre sempre
morno
aliterações consumadas
no tempo futuro de um depois sempre ausente
e as mãos que não podiam ver
não podiam curar
porque isto nunca se tratou de um converter
o depois há-de trazer, wittgensteinianamente
o velho pois
nele contido desde o primeiríssimo verso
e sendo que a primavera chegou mais cedo
será que o verão nos encontra a tempo certo?
domingo, 26 de abril de 2009
Eu, Teresa, me confesso.
De uma santa lascívia que me construiu estas paredes de onde parto até vós.
Eu, Teresa, me confesso.
De ter dominado a língua e com ela me ter dominado por deus.
Eu, Teresa, me confesso.
De ignorar os desígnios dos senhores da lei episcopal, de ignorar os receios de meu pai, e de me ter apaixonado por demais.
Eu, Teresa, me confesso.
De uma culpa inconfessável, pois a ela eu obedeço, e para chegar a ti, Senhor, muy grande terá que ser essa culpa. Muy grande terá tido que ser a falta, ainda que inconfessável, porque a ela não acedo em imagem nítida, como a vós, senhor, que eu vejo e ouço.
Eu, Teresa, me confesso de vaidade e de pouco nobre vigília.
E da pretensão de a vós querer chegar, com estes meus humanos e fêmeos sentidos, e uma voz cheia de febre, daquela febre, da qual a razão se parece por vezes ausentar.
Eu, Teresa, me confesso.
De uma santa lascívia que me construiu estas paredes de onde parto até vós.
Eu, Teresa, me confesso.
De ter dominado a língua e com ela me ter dominado por deus.
Eu, Teresa, me confesso.
De ignorar os desígnios dos senhores da lei episcopal, de ignorar os receios de meu pai, e de me ter apaixonado por demais.
Eu, Teresa, me confesso.
De uma culpa inconfessável, pois a ela eu obedeço, e para chegar a ti, Senhor, muy grande terá que ser essa culpa. Muy grande terá tido que ser a falta, ainda que inconfessável, porque a ela não acedo em imagem nítida, como a vós, senhor, que eu vejo e ouço.
Eu, Teresa, me confesso de vaidade e de pouco nobre vigília.
E da pretensão de a vós querer chegar, com estes meus humanos e fêmeos sentidos, e uma voz cheia de febre, daquela febre, da qual a razão se parece por vezes ausentar.
Eu, Teresa, me confesso.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
segunda-feira, 20 de abril de 2009
sexta-feira, 17 de abril de 2009
terça-feira, 7 de abril de 2009
segunda-feira, 30 de março de 2009
Tejo (parte última)
(...)
linha de fuga que perde o concreto
-não encontro o complemento indirecto nem o artigo definido-
mas aguardo as reticências
gosto de atrasar conclusões e de prolongar os silêncios
e a paranóia entra sem bater
senta-se no sofá da sala em silêncio e espera sem olhar para o relógio
(sinopse abrupta de uma narrativa interminável)
psicose estética, sublimação asséptica
os meus devaneios de criança cozinhados em lume brando
-correntes de menoridade mental-
esta civilização cresce oca
mandata a liberdade
coroa a insanidade
senta-se no jardim a ouvir o relato do jogo da guerra
e volta para casa a pensar na morte da bezerra da vizinha
tão serenos, tão obtusos
impassíveis nas vossas jaulas de cristal
na vossa modorra sensorial
-alento desaustinado-
prefiro o caos à vossa disciplina enfileirada
Prefiro o meu Coelho Branco, ainda que chegue sempre atrasado.
(2002)
linha de fuga que perde o concreto
-não encontro o complemento indirecto nem o artigo definido-
mas aguardo as reticências
gosto de atrasar conclusões e de prolongar os silêncios
e a paranóia entra sem bater
senta-se no sofá da sala em silêncio e espera sem olhar para o relógio
(sinopse abrupta de uma narrativa interminável)
psicose estética, sublimação asséptica
os meus devaneios de criança cozinhados em lume brando
-correntes de menoridade mental-
esta civilização cresce oca
mandata a liberdade
coroa a insanidade
senta-se no jardim a ouvir o relato do jogo da guerra
e volta para casa a pensar na morte da bezerra da vizinha
tão serenos, tão obtusos
impassíveis nas vossas jaulas de cristal
na vossa modorra sensorial
-alento desaustinado-
prefiro o caos à vossa disciplina enfileirada
Prefiro o meu Coelho Branco, ainda que chegue sempre atrasado.
(2002)
quinta-feira, 26 de março de 2009
quinta-feira, 12 de março de 2009
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
sábado, 21 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
no borbulhar da sopa ontológica: se tudo o que de mim imana, mais ou menos rizomático, parece sempre avistar um fim, mas ainda não habitar dentro dele: possuir uma lógica ainda por determinar, mas ainda assim já percepcionada - ou pre-ceptionada - é porque há qualquer coisa de transcendente ligada a ela. se é deus, consciência colectiva, eterno retorno ou granito metafísico, não sei. mas uma não pode excluir a outra por completo. se o véu implica o outro lado, o caminho de uma imanência a outra, assumimos então que esse desvelar - momento absolutamente fugaz, mas mesmo assim capaz de uma actualização - se encontra no domínio da transcendência. Resumindo:
If I say it, will you mean it?
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
sábado, 31 de janeiro de 2009
i can think of an acquired taste in attempt to soothe these fluttered nerves. some impositive forms of translating body consciousness into some kind of burlesque, dandy situations: luxurious dreams gone dry. flesh for the mind, the cells demand, dripping desire through these reminiscent pores. some pages ago, the book mentioned something unbearably green. can't really remember what it was, just that it was huge, slow, and green. (all this rain, and no grey within sight.) i can't keep track of numbers anymore. i can't really tell when it begun. for all i sense, it has always... how many omission points can we repeat in a row? is it not a sin? is it not a waste?
there is Life beyond the garden, a strenght yet to be seen. and the laughter. loud as never before.
the lake is still inviolate, white and frozen, just waiting for the heat of a certain summer.
there is Life beyond the garden, a strenght yet to be seen. and the laughter. loud as never before.
the lake is still inviolate, white and frozen, just waiting for the heat of a certain summer.
sábado, 24 de janeiro de 2009
certas nocturnidades que se passeiam atreladas a vícios velhos e esgares futuros, mais tarde ou mais cedo, pela sua natureza granítica, pelo seu grau de constância demorada, vingarão precisamente pela esterilidade. essa é por vezes mais drástica do que absoluta, mais nervosa do que abafada. e mais geral do que alheia. e daí o grito. entretanto, só murmúrios e suspiros, congelados num tempo mais claro, mais arejado. (oxalá os joelhos aguentem o peso destes dias.)
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
há dias mais sonoros que outros. há ruídos mais claros, neves cinzentas, juízos descalços. tornei-me permeável à rua lá de fora enquanto cuido da cidade cá dentro. e nada mais me pode demover além do sono que tomei emprestado ao mundo. mas até esse se acomoda ao canto enquanto espera a altura certa de se evadir, para depois voltar. os nossos argumentos são sempre teóricos, tanta fluência e sobra apenas um abismo. há dias de jejum e de festins telúricos, e há dias que se deixam enganar.
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